
Desde menina eu gostava dessa palavra, translúcida, que quer dizer transparente, mas quando eu descobri essa palavra, eu soletrava e dizia: trans-lú-ci-daaaa.
As transparências nas emoções, nos sentimentos, sempre levaram minha mãe a me dizer:
--- menina besta que se mostra a toa.
Tempos se passaram, aprendi a suar o nariz sozinha, a limpar meu rosto de alguma baba, aprendi a amarrar os tênis, a engraxar meus brilhantes sapatos escolares.
Mas a ideia de: ‘você é besta’, não me largou.
O caminho por vezes, tanto no tato, no trato, no trajeto de um olhar ao outro, é tortuoso, com fagulhas quentes que nos fazem chorar.
Agora enquanto escrevo, a cozinha está lavada, os pratos empilhados no armário antigo, a casa cheira a cera daquelas antigas, e o pão assa no forno velho, pois não quero um forno novo, tenho medo que meus pães e meus bolos não assem mais como agora...
E nisso tudo tem o soar de chuva de um verão estranho, mas é verão.
TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM
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