terça-feira, 15 de maio de 2012

Chuva fina canta melancolia

nas frestas da saudade
a temperatura arranha a língua

a memória grita
e embrulha o coração

a garganta empurra o choro
que convulso sob pra cabeça

o medo desce
engolido pela melancolia

chove fina chuva
fina chuva
chove

by Solange Mazzeto

sexta-feira, 11 de maio de 2012

'figura seca se desenha sob a lida
música ao redor dos olhos
[ainda se via]
mascarada de pó'

by Solange Mazzeto
a vida brota pelos cadarços compridos do sol

by Solange Mazzeto

quinta-feira, 3 de maio de 2012

http://www.youtube.com/watch?v=yJSEu0z3Nm8

Link pro vídeo onde conto uma história que criei!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Falta traduzida e arrepiada

era falta, do tambor
que entoava o som que o ouvido acostumara

falta da terra
do arco e da flecha
falta da liberdade do correr



falta da semente que plantada
atingiria os adornos
pra ser emoldurada o eterno do povo
ao som da peneira no charco

era falta da chuva que molhando
anunciava
o perfume da terra

era falta da fita
da terra
era a ferida cortando rumores
era... dia do claro e do escuro
era dia de índio

TEXTO: Solange Mazzeto

IMAGEM: Evelyn Schuler

A menina que Gostava de Flor

Era uma vez uma linda menina, que amava as flores, todos os dias ao se levantar, lá ia ela, toda feliz pegar flores no seu jardim encantado.
Ia que ia, pé ante pé, fechava os olhos, sentia qual cor lhe agradava e escolhia dentre tantas a que mais lhe chamasse a atenção...
Nina tinha uma grande amiga que não entendia esse seu ritual, e implicava com ela, dizendo:
---Nina, se eu fosse você pegaria sempre a cor azul e a cor rosa, pois azul é a cor de céu...a mais bela de todas as cores... e a cor-de-rosa, é a cor do meu nome...
Nina, sorria e lhe dizia:
---Qual nada Rosinha, escolho cada dia uma cor, é assim que gosto.
Rosinha se sentia contrariada por Nina não a obedecer, se irritava com Nina, mas Nina nunca perdia a compostura, Nina era um anjo na Terra sussurrando bondades... Sabe aquelas crianças anjos? Pois bem Nina era desse jeito, anjo...
Um belo dia surgiu no jardim uma flor roxa, tão roxa, que era quase preta, e Nina sentiu que devia usar aquela cor, quando ia arrancar a flor, eis que surge Rosinha e diz:
---Nina, não pegue essa cor, é muito feia...
Nina, como sempre sorriu e pegou e colocou nos cabelos a flor roxinha bem escura
Rosinha surtou, esbravejou, tripudiou
Nina calmamente deixou Rosinha falar e falar e falar...
E depois que a Rosinha estava mais calma, Nina lhe disse:
___Rosinha, a flor roxa, é cor bonita, como todas outras cores. Nunca antes havia nascido tão lindo tom aqui no meu jardim, deixe de encrenca e vamos passear...
E foram, andando aqui e ali, as pessoas achavam estranho aquela cor tão forte numa menina tão meiga, e as pessoas falavam horrores pelas costas...
Até que ao final do dia, Nina, viu que a flor estava murchando como todas faziam ao final do dia, mas essa morria com um delicioso sorriso nos lábios, sabe que sorriso era esse? Sorriso de gratidão, pois por sua cor, ela nunca havia sido escolhida pra enfeitar cabelo de menina nenhuma, e agradecendo, despediu lhe dizendo...
---Nina, estou muito grata por você ter me feito esse carinho e ter me levado passear por inúmeros lugares, fechou os olhos e morreu, assim feliz com um sorriso nos lábios e seu lábios ficaram da cor do sol, amareloooo...
Nina emocionada, com uma lágrima rolando, chamou Rosinha, que tudo assistira no canto, se abraçaram e batizaram a flor roxa de centro amarelo, de amor-perfeito.
E depois disso, Rosinha não mais implicou com Nina, e no jardim encantado brotaram muitas flores de todas cores imagináveis, e então...como toda boa historia que começa com ‘era uma vez, essa termina com...’todos viveram felizes para sempre’


Texto: Solange Mazzeto

domingo, 25 de março de 2012

Tudo e nada, e tudo

nada e tudo se faz e desfaz...
acredito que tudo seja breve e brando, creio num amor vivenciado, projetado e direto.
como diz Pessoa, creio na vida como num mal me quer, e não penso, porque pensar é não compreender.
tenho espaços, ganho flores de talco, sumo na varanda, fico dormente, rego semente, me alegro com cores inimagináveis, viajo pela galáxia coberta de merengue.
tive vexame, enxame, desagüei na claridade, cuspi em gente, me tornei fera, rainha, folha seca, desmanchei cabelos, fui presa pelos dentes...
despi de correntes, de malas, morri no vento da praia
sou pertinente, que nem galo, que nem serpente.
abro espaços na janela, futrico o presente, gargalho, sofro ...
arrumo sarna pra me coçar, derreto a elogios, marcho diante da moralidade, recheio meus ossos em pasta de amendoim, ouço Cazuza cantando Cartola
e endoido pra ‘desendoidar...’

Texto:Solange Mazzeto

domingo, 4 de março de 2012

Lugar azul

Estava diante de mim, vestindo a noite, onde a vida costuma doer até o dia do basta, depois é só ir acarinhando a languidez, que tudo se ajeita, ou não, mas você não mais se enjeita diante das insistentes dores que não te levam a nenhum lugar azul.

Ele, ela, os dois




Ele veio e disse de novo... olá, ela sentiu de novo... prazer, falaram... Coisas banais misturados com perguntas bobas de desejos interpessoais.
E teve um ‘’ vamos sair’’
E teve dois ‘' sim’’
No tanto de energia magnetizada; ela travou a partida antes do pênalti, ele desviou a bola antes do gol
Sem esperarem o final do jogo, tampouco o apito do juiz

Melhor assim? Sei lá...
Ela não chorou?!
E ele? chorou?!

Talvez tenham chorado pela fumaça através dos faróis da chuva

Ela raciocina agora, bem mais leve
E, sente que não vale a pena mesmo, ele... ela, os dois... Ou vale?


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Pra mim é isso!

O Teatro pra mim, é a arte líquida que corre pelas minhas veias e salienta quem sou, porque burila com sua oxigenação espaços inimagináveis.


Solange Mazzeto

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Figura da vida

era tiro e queijo, moeda e beijo
era algo indefinível
sem culpa, sem sentido

veio a onda
desceu a raiva

rumo sem nexo
pinga usada
bengala gasta

vida vasta
caiada de sal
...
figura da vida


by Solange Mazzeto

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Quando se está amando




A gente fica meio adolescente quando tá amando, a gente fica mais feminina e sabe falar melhor, e chorar menos, porque tá com o sonho na ponta do dedo, fica assim meio boba perante os outros que não estão na mesma vibe, mas é tudo tão divertido, que o riso se faz farto, alto. E os trejeitos desajustados do povo? Ah...nem ligo, tô 'alta' feito adolescente na vida, meio super menina, que não corre perigo, que não tem medo da altura do beijo...


Texto e fotografia: Solange Mazzeto

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Do gosto

gosto da melodia dos passos infantis

O presente




O presente tão querido estava ali, ao alcance da alegria.
Os olhos lá no passado, não via.
Texto--- ANA JÁCOMO

Imagem: Solange Mazzeto

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O mundo é troco de bar

viajei léguas,
adormeci séculos
derrubei
lágrima de ferro

cuspi no pão
suspirei de paixão
bebi
água apodrecida

cansei, suei,
me testei
testei você,
dei murro em teu coração
deixei marca de mordida,

pulei muros,
esmurrei paredes
destruí pontes,

fiz amizade
inimizade
também fiz

destilei veneno
vendi a alma por ‘n’ vezes

me habituei a mentir
diante da eternidade

sofri bocados
me arrependi,
cedi
dei força,
ouvi lágrimas

vivi,
vivo e continuarei fazendo o caminho
sim, no singular mesmo,
existe só um caminho pra não voltar ao mundo em troco de troco de bar...


by Solange Mazzeto

Cimento de gente

Chove e cá estou escrevendo de madrugada, a noite hoje não está ferozmente quente, como nas outras noites dessa semana. Faxinei quase casa toda, menos um quarto, ou melhor, menos três quartos da casa, quem sabe amanhã vou, abro e limpo?
Meus dedos tocam as teclas e tudo vai sumindo da vista, a canseira desaparece detrás da porta, a fome acaba diante do jornal, o mundo corre, prolixo.
Pessoas morrem, e outras nascem umas amam e outras enobrecem, agora enquanto escrevo alguém em algum lugar está com desejo de comer maçã... desejo de beijar, talvez um ser que já se foi. A morte angustia, mas é o que temos de concreto, além do cimento de nossas máscaras.

by Solange Mazzeto

Ana Jácomo, gostei dos textos dela

http://anajacomo.blogspot.com/

Talvez

talvez a gente perceba que o passar do riso e da lágrima
pulula entre dois corpos entreabertos
que o destino é onda que vai e que passa
que a alma é muda de flor
semente de árvore
e alimento de passarinho


by Solange Mazzeto

domingo, 15 de janeiro de 2012

Anoitecia

Anoitecia e o vento vigorava a cidade, castigando as árvores, eu ali na sala de estar, escutando um blues com um perfume que inebriava a memória. Tudo podia ser bege, ou nude como se diz agora.
Mas não, as cores iam e vinham perfiladas em matizes vibrantes e roxas.
E tinha o cinza, o preto, e suas nuances dentro de padrões vermelhos.
E não era o fim, nem o começo, era a era da primeira fase, era a aurora da nova estrada.
E enquanto escrevia eu ia de encontro ao meu mais terrível segredo, que no fim não era nada, e era tudo. Eu podia vislumbrar os telhados da cidade do alto da Serra, dedilhar meus dedos pelas telhas e varrer momentaneamente a minha existência.
E namorar um jovem rapaz, e folhear os livros da escola.
E sorrir por entre as pernas de um gato, prosperando a vida, a passar gentilmente pelas labaredas do fogo silvestre.
E no mais, podia ser a hora da serenata, cantando cigarra, enamorada pela lua.

TEXTO: Solange Mazzeto