domingo, 21 de março de 2010

Estória & História




Lembrei de meu pai, e me vi junto a ele, na minha meninice e tagarelice de meus 7 anos de idade.

E é como se o ouvisse agora me explicando: estória com “E”, são aquelas nossas corriqueiras do dia a dia, são também os contos inventados que você gosta tanto de ouvir. E estória com H, é história de D. Pedro, Tiradentes, e dos grandes homens do Mundo.

E então vieram os caras da língua portuguesa e retiraram ‘minha’ estória, tiraram o “e”, deixaram só um “H” perverso e cru.

Minha alma não lê as grandes histórias dos homens do mundo, minha alma lê as pequenas grandes estórias da alma; minhas e tuas...



texto by Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

Fazer teatro




Fazer teatro é que nem amar canalha, vc se rala todo e ainda se sente feliz, é algo que gruda nas células e cheira [muito] bem ...

Solange Mazzeto

quinta-feira, 18 de março de 2010

Stairway To Heaven



Stairway To Heaven
Led Zeppelin
Composição: Jimmy Page / Robert Plant

There's a lady who's sure all that glitters is gold
And she's buying a stairway to heaven
And when she gets there she knows if the stores are all closed
With a word she can get what she came for

Oh, and she's buying a stairway to heaven

There's a sign on the wall but she wants to be sure
'Cause you know sometimes words have two meanings
In the tree by the brook there's a songbird who sings
Sometimes all of our thoughts are misgiving

(2x)
Oh, it makes me wonder

There's a feeling I get when I look to the west
And my spirit is crying for leaving
In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees
And the voices of those who stand looking

Oh, it makes me wonder
Oh, and it makes me wonder

And it's whispered that soon, if we all called the tune
Then the piper will lead us to reason
And a new day will dawn for those who stand long
And the forest will echo with laughter

Woe, oh
If there's a bustle in your hedgerow
Don't be alarmed now
It's just a spring clean for the May Queen

Yes there are two paths you can go by
But in the long run
There's still time to change the road you're on

And it makes me wonder

Oh

Your head is humming and it won't go, in case you don´t know
The piper's calling you to join him
Dear lady can you hear the wind blow and did you know
Your stairway lies on the whispering wind

And as we wind on down the road
Our shadows taller than our souls
There walks a lady we all know
Who shines white light and wants to show

How everything still turns to gold
And if you listen very hard
The tune will come to you at last
When all are one and one is all, yeah

To be a rock and not to roll

Oh

And she's buying a stairway to heaven

Círculo das mãos

abro e fecho
clico
penetro

língua ansiosa
subtrai
atrai

círculo das mãos

cintura clama
alma expõe

dama
homem

fogo
...


by Solange Mazzeto

Olha-me!



Olha-me! O teu olhar sereno e brando
Entra-me o peito, como um largo rio
De ondas de ouro e de luz, límpido, entrando
O ermo de um bosque tenebroso e frio.

Fala-me! Em grupos doudejantes, quando
Falas, por noites cálidas de estio,
As estrelas acendem-se, radiando,
Altas, semeadas pelo céu sombrio.

Olha-me assim! Fala-me assim! De pranto
Agora, agora de ternura cheia,
Abre em chispas de fogo essa pupila...

E enquanto eu ardo em sua luz, enquanto
Em seu fulgor me abraso, uma sereia
Soluce e cante nessa voz tranqüila!

OLAVO BILAC

quarta-feira, 17 de março de 2010

Lago e rio




Ao abrir os sonolentos olhos, pensava no bico que fazia ao despertar e em qual caraminhola poria sua crença.
Ela não colocava os pés pra fora da cama, sem antes rezar uma ladainha inteira, febrilmente agarrada com seu terço de contas usadas e gastas que havia ganhado de sua avó materna. Uma avó quase neutra, uma senhora católica fervorosa que um dia a havia deixado ser mordida por um faminto cão, porque não podia deixar a reza de lado...
Entre uma “Ave-Maria” e outra, sua mente relaxava e driblava o mal estar e ou a ira. E se punia toda vez que vinha aos lábios algo espevitado e menos feminino.
Um dia amanheceu com os rasos olhos como um lago, ela ia e vinha quase morta por ver seu sonho desmoralizado. Onde ela teria errado? Em que parte do gigante amor, ela teria feito equívocos e desastres?
Por séculos se puniu, sua alma iluminada partira pra outro mundo, jazia então um corpo pálido e os olhos perdidos nas lembranças cruas...
E em algum momento, o pão fresco com manteiga virara disfarce pra alegria. E nisso ela se apegou pra tentar se salvar. Era uma esperança dourada, uma corda que balançava de um lado a outro e ela ferozmente se agarrou a idéia de abrir os braços e se soltar no mundo vasto.
E foi assim que num grito de riso e nado ela traspôs o lago, se banhou no rio e um fundo suspiro escapou de seu peito e se uniu ao seu amor próprio e embora com dor, ela se abraçou e pela primeira vez se permitiu ser algo leve e espontâneo e sua alma voltou.


texto e imagem by Solange Mazzeto

sábado, 13 de março de 2010

Ecos

noite adentro em redemoinho
o meu corpo baila
numa estratégia de colocar
a balança da mente
no lugar

pra decolar num vôo clássico
com as plumas ao sabor do ar

mas...
as lágrimas salgadas demais
criam asas tombadas

onde gemem madrugadas
e choros estreitos
sugam
o [meu-teu] luar


by Solange Mazzeto

sexta-feira, 12 de março de 2010

Algo delicado



bater cílios

se libertar
nas asas do balão

misturar prosa e fantasia

seguir adiante
na rebelde areia
do mar


texto by Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

quarta-feira, 10 de março de 2010

Avesso

acordei com o
sentido
do prazer
que tenho em ser
rosa
do vento

só que
gotas do avesso
borraram meu sensor
e gotejaram
.
.
.
veneno de dor


Solange Mazzeto

terça-feira, 9 de março de 2010

Uma arte

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.


Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.


Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.


Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.


Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.


- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre.


Poema: Elizabeth Bishop
Tradução de Horácio Costa

sábado, 6 de março de 2010

Era assim




cantando trovinhas
em
pedaços de fita

a estrada tão rica
a estafa não vista
um rosto a mirar

do alto do céu
planos e sonhos
era assim
voar
...


texto: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

Língua

bala da rima
brinca
na língua


by Solange Mazzeto