sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ruflar

sopra o vento noroeste
na asa de um anjo

molha em gozo fátuo
a alegria

sussuro pra ventania
‘não me amoles’

me deixe no sonho
de rezação

abaixo
verá descrito
meu sopro
meu destino
minha paz


TEXTO by Solange Mazzeto

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Magistral




o fígado padece
apodrece
dissolve

lama nos olhos
figura marcada
silueta diluída

marcas da exposição
nas unhas do coração

indelével
ela se doava

e paria



TEXTO by Solange Mazzeto

DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

sábado, 20 de novembro de 2010

O que ando sentindo, ando dizendo



Me levantei, acordando mais tarde que de costume, filhota não estava em casa, tinha ido dormir na casa de uma amiga. Cada dia mais me acostumo com essa “ausência”, e quando acordei hoje, pensei “Não é a toa que o povo do USA, ‘tiram’ a filharada de casa aos 18 anos, quem não sai, é considerado ‘debilóide’, até pessoas consideradas ‘especiais’ saem de casa, quando podem arcar com uma vida longe dos pais. Tempos atrás vi um documentário de um casal com síndrome de Down conquistando essa ventura de serem um casal como qualquer outro, confesso que me emocionei pacas, a mulher do casal com a síndrome era mais ‘espertinha’ que o cara, e então cabia a ela, manejar mais a vidinha deles.

Achei bonito isso, depois ela queria engravidar e as famílias ficaram em polvorosa, mas ela foi adiante, a criança nasceu saudável e sem a síndrome. Eu exultei, não só pela saúde do bebê, mas pela garra dessa menina.

Aí me deparo com tanta fragilidade, com tanto medo e ócio que por vezes sentimos em relação a nossa vidinha né!

Não quero aqui me dar sermão e muito menos servir de sermão pra ninguém, mas é de se pensar nos ‘algos’ que não fiz, e nos ‘algos’ que ando fazendo.

Uma das coisas que faço com mais frequencia é dizer o que sinto, sabe?
É eu ando dizendo mesmo, caso a pessoa, ou as pessoas andem me estranhando, o problema deixa de ser meu e se torna dela [s].

É isso, hoje é assim que ando sentindo, e vou ali curtir o sol que tá me convidando a sorrir.


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Trilha Sonora da minha vida

While My Guitar Gently Weeps
The Beatles

Composição: George Harrison


While My Guitar Gently Weeps
I look at you all see the love there that's sleeping
While my guitar gently weeps
I look at the floor and I see it needs sweeping
Still my guitar gently weeps

I don't know why nobody told you
How to unfold you love
I don't know how someone controlled you
They bought and sold you

I look at the world and I notice it's turning
While my guitar gently weeps
With every mistake we must surely be learning
Still my guitar gently weeps

I don't know how you were diverted
You were perverted too
I don't know how you were inverted
No one alerted you

I look at you all see the love there that's sleeping
While my guitar gently weeps
I look at you all
Still my guitar gently weeps

(I look from the wings at the play you are staging
While my guitar gently weeps
As I'm sitting here doing nothing but aging
Still my guitar gently weeps)

sábado, 13 de novembro de 2010

Senhorinha lilás




Ali estava eu, pleno sábado de manhã andando pelo Shoppping, com uma sensação ótima de liberdade, de não ter que esperar ‘marido’ pra nada. Porque quando casada, era quase sempre uma carinha meio feia, um bufar de “ai de novo, ela vai entrar naquela loja...”.

E quando eu estava de bom humor, levava na base da brincadeira, quando não, a diversão “shopística” acabava de vez e íamos embora. Por vezes, pra amainar e não brigar, eu fazia piada, mas isso cansa por demais, fingir que tudo tá bom.

Pois bem, hoje como, às vezes, faço, observei as pessoas na rua, e no Shopping, o que é um excelente laboratório pra quem é atriz como eu.

Senti fome e fui comer, na fila do fast food aquela demora de gente que não sabe o que escolher e fica olhando pra comida, como se fosse um ET, sempre tem uma mulher com o regime decorado, que pega uma azeitona, várias folhas verdes, coca diet e tá acima do peso ‘ideal’.

Depois sempre tem uma mulher magra que pega muita comida e o povo morre de inveja, e ainda pega doce de sobremesa e esbanja charme [é hilário isso].

Enfim, de repente vi uma senhorinha de cabelos lilás, sabe cabelo roxinho, quando criança eu dizia pra minha mãe, ‘mãe quando eu ficar velhinha irei pintar meu cabelo de roxinho’, minha mãe revirava os olhos e sorria, e me dizia ‘é feio filha’, ‘é não’, eu retrucava. Juro que achei que essa tinta não existia mais, mais existe. Saquei meu celular pra bater foto dela, mas achei que seria indelicado, a menos que eu pedisse pra bater a foto, mas também achei indelicado e fiquei ali, vendo a senhorinha lilás...

Depois que almocei, fui sassaricar pelos corredores volumosos de gente, e vi um casal, a mulher emocionada, olhando a pulseira que acabava de ganhar do, namorado, ficante, sei lá. Só sei que foi uma cena bonita, embora, ela não o agarrou pelo pescoço e nem lascou-lhe um beijo [que era o que eu esperava ver].
Ela apenas olhava pra pulseira, já no braço, e os olhos traduziam a emoção parada, fragmentada, sem gestos de eloquência. Como, talvez, eu não agisse assim, me perturbou, se eu fosse a diretora do ‘filme’ dela e do cara, falaria pra ela: “ olhe pra ele, balbucie alguma coisa inteligível, depois diga que o ama e o beije”. O corpo dela queria isso, os sinais eram evidentes, ele também ‘dizia’ isso com a expressão corporal. Mas nada; continuaram andando, sorrindo um para o outro, ela balançando a cabeça como ‘não acredito no que to vendo”, literalmente embasbacada, ai pensei, acho que ela não consegue falar de tanta euforia, isso pode acontecer mesmo, aí na minha malvadeza mental pensei: “vichê e quando ela ganhar alianças? Terá um colapso”?

Parei de observá-los, e continuei caminhando, já meio agoniada, porque detesto Shopping lotado.

Subindo as escadas rolantes, vi a cena que embasbaco sempre, crianças, e derreto mesmo, não tem jeito, gosto dos pequeninos, se seguro um neném no colo, sempre meus olhos enchem de lágrimas, tento me segurar, e disfarçar, mas é sempre isso, ‘me acabo’.

E ali estava ‘minha’ criancinha predileta no quesito beleza, as japonesinhas, ou como dizia o Cazuza, as japoninhas, toda enfeitadinha, vestidinho, sapatinho, lacinho no cabelo, e aquela boquinha em forma de coração, desenhadinha de tudo. E a avó babando pela netinha, quando me olhou, sorriu aquele sorriso terno que algumas avós têm, sorri pra ela de volta, e segui meu caminho.

Entrando numa loja de departamentos, vi um casal, a mulher histericamente perguntando ao marido, que roupa levar, e ele qualquer ‘uma tá bom’. Ela bufou, brigaram e ele saiu da loja.

É vexames, coisas de casal.

Pois é, peguei um táxi que eu tava com compras pesadas e tive o prazer de ser trazida por um senhor paranaense, vivendo há 38 anos aqui em Sampa, com um sotaque e uma alegria contagiantes. Viemos conversando como dois velhos conhecidos, e antes de me deixar na porta de casa, me disse: moça, você é extremamente amistosa e simpática, isso faz de você mais linda do que já é, porque você já percebeu que a mais linda pessoa, se ela for antipática, ela fica é muito da feia? Moça, eu falo errado, mas gosto de assim falar. Gargalhei e disse, mais aí que reside seu charme, meu senhor!

Rimos, paguei o taxista e disse: e o senhor é um homem muito legal também, tem colegas seus, que nem olham pra cara da gente, tratam mal, porque a corrida é curta. É eu sei, esses daí, nem pra mim sabem mostrar os dentes moça!
Rimos de novo, entrei em casa, satisfeita, e com uma promessa, não sei se ainda dividirei o teto novamente com outro homem, mas tem algo que não farei mais, é levar o ‘coitado’ num Shopping lotado, e ainda perguntar opiniões disso e daquilo outro.

Dia de sábado que nem esse? Poderia ser melhor? Não, a menos que eu tivesse com mais grana pra gastar.


TEXTO: SOLANGE MAZZETO
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vontades Nuas




tenho vontades nuas
vontade de tombar a cabeça
em seu ombro
e sentir tudo que você emana

mas
.
.
.
essas mesmas vontades
que
cintilam pela minha cabeça

fervem atitudes

esfriando
sentimentos



TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

Texto de Marcelo Nocelli - "O Teatro Nosso de Cada Dia"

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Hoje a dor me venceu.


(dedicado ao meu querido e muito amado, Dr. Alfredo Castro )


Hoje a dor me venceu. A fadiga me tocou fundo na ferida da melancolia.
Deixe-me enveredar pela dor da falta, ele sabia de mim mais que eu, ele me olhava com uma zanga amorosa que me fazia querer melhorar e me curar.

Acredito que ele vive numa linda estrela cadente, e que vez ou outra quando o Pai da Vida deixa, ele vem me visitar.

Minha alma o sente, por vezes contente com meu caminhar.

Quando ele se foi, parte de minha alegria, se foi. E então quando todos a minha volta acharam que eu não suportaria, eu suportei, só que nesse suportar, eu deixei de sorrir pela alegria, e comecei a sorrir pela fibra de que sou feita.

E sou feita de sonhos coloridos, mas hoje eu cansei, aniquilei adereços, acabrunhei a alma, ruminei e senti toda dor que a perda dele me fez até o dia de hoje.

Achei por bem, me dopar, e meu cérebro relaxou, agora subirei ao banho, farei uns ásanas e dormirei...quem sabe sonhe com ele, e minha alma saia leve do meu corpo e eu o encontre.

Amanhã é outro dia, esse já avermelhou e se extinguiu...

Hoje morri amanhã eu [re] vivo.

TEXTO e IMAGEM: Solange Mazzeto

PS: Não bebi nada de álcool [eu não bebo], no copo é chá mate. Mas o texto é verídico e a dor foi real.

Olho-me




olho-me
recomponho-me
sei de mim

adiante revejo que a dor
deixou um espaço

olho-me
diante do espelho
espelho-me

meu sorriso brota
do mais puro

cintilante milagre

aquele
onde posso escrever...



TEXTO E FOTOGRAFIA:
Solange Mazzeto