sábado, 12 de novembro de 2011

Tempos idos

Tempos idos

vindouro
outonal
febril
hostil
infernal

retorcido
[igual galho molhado]

brilhante
venal
distante
voraz

tempo

do lado de lá
de lado de cá



by Solange Mazzeto

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Caio Fernando Abreu

Olhe, não fique assim não, vai passar. Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai agüentar, mas agüenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar. Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. Que pena. A gente acha que não vai agüentar, mas agüenta: as dores da vida. Pense assim: agora tá insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da frase passada. Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas atrás. Você acha que não porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe. A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, essa sensação de que pegaram sua traquéia e seu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo – é difícil de acreditar, eu sei – vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver, passou. Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. “É melhor viver do que ser feliz”. Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida.Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, doi demaais. Mas passa. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar. Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Penumbra

percorri lentamente teus traços
de tua lágrima retida
fiz meu pranto calmo

deixei que escorresse
de mim
cada frase [mal]dita

intencional foi sua boca
sobre a minha

perplexa
me senti ausente
e nua

by Solange Mazzeto

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Remember

-oi
-olá, saudade daquele tempo...
-aquele tempo acabou, faz tempo
-eu sei que faz
- se sabe porque tá com isso de remember?
-tô relembrando só, e não vem com essa de falar inglês, você não se lembra que não gosto?
-lembrar? lembrar?...eu não lembro muita coisa sobre você

-você quer beber alguma coisa?
-quero sim
-coca-cola?
-não sei me deixa ver o cardápio

-mas me fala de você
-não tenho nada pra falar de mim, a não ser que eu fale das flores que não se abriram, ou do meu sorriso fracassado
-hei, para com isso, quero saber mesmo de você, de tudo, me conta?

-quero coca-cola com gelo, sem o limão
-ihh, veio com limão, você vai encrencar né?
-não, não vou, é só tirar o limão com os dedos em pinça...

-você não vai dizer nada mais com nada né?
-não sei, não estou entendendo o que você quer dizer

-olha pra mim?
-pra que?

-vamos andar ali perto do mar, você gostava disso
-não vou não, vai sujar minha sandália

cruzam os braços, as ondas vão e vem, cruzam os braços, pedem cerveja e queijo a milanesa
o vento festeja num ar primaveril, as luzes artificiais fazem a festa, ela olha pra ele, sorri um sorriso sem sal e diz, tchau
sem beijo, sem esperança, as coisas, às vezes, chegam ao estado terminal.

TEXTO: Solange Mazzeto

sábado, 23 de julho de 2011

Neon

com a boca impressa
em papel de segunda

e os lábios dissimulados
criados pelo bisturi

a criatura
luzia em neon
a brevidade
e o
ínfimo


Texto: Solange Mazzeto

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Porque Eu Sei Que É Amor -Titãs

Porque Eu Sei Que É Amor
Titãs
Composição: Sérgio Britto e Paulo Miklos

Porque eu sei que é amor
Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nenhuma prova

Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui
Agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir
Embora

Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
Eu peço somente
O que eu puder dar (2x)

Porque eu sei que é amor
Sei que cada palavra importa
Porque eu sei que é amor
Sei que só há uma resposta

Mesmo sem porquê eu te trago aqui
O amor está aqui
Comigo
Mesmo sem porquê eu te levo assim
O amor está em mim
Mais vivo

Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
Eu peço somente
O que eu puder dar (4x)

Porque eu sei que é amor (3x)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Cenas de um cotidiano

Marido cara de c...

Mulher com pálpebras inchadas (claro que tinha chorado)

Filhos, dois, um casal

Menino capeta

Menina doce

A mãe pro filho: 'porque você está com a cara molhada filho?' Gentilmente passando a mão no rosto dele

O menino se esquiva

Tô suado mãe, que tem? Agressivo

A menina comendo na dela, quietinha

A mulher perguntando pro marido

Que você quer comer?

Ele só levanta os ombros, em atitude de desdém

Ela sai da mesa, pra pegar comida os filhos também

Ele rapidamente pega o celular

A cara de 'traste de cera’ some imediatamente

Ligação rapidinha, olhando de soslaio

É coisas de um cotidiano

De m....



TEXTO: Solange Mazzeto

terça-feira, 12 de julho de 2011

Táxi

E lá vou eu, ia pegar um ônibus, trânsito de sexta-feira fervendo, atrasada, catei um táxi mesmo, não era ainda hora da bandeirada dois e o sujeito colocou bandeira dois, depois de um tempo, passou para bandeirada um e falou com aquele sorrisinho cínico: ---- Depois desconto $ 0,40 cents.

Eu nem respondi, só revirei os olhos.

O taxímetro tava rodando mais que peão de rodeio, eu ali com as mãos crispadas e com a bendita frase: ‘Sampa para um dia’...

Já tava caro demais, caso continuasse no táxi acho que iria pagar uns 100 mangos brincando, tava na favela da Espraiada, e o taxista: ---- Nossa, tenho que voltar pro Ponto as 21:00, não vai dar tempo, eu vou deixar a senhora ali em cima e depois vou ter que... [enfim ele ficou falando o que iria fazer porque ele tava nervoso de não poder voltar ao Ponto no horário que ele já tinha marcado, eu não tava a fim de ouvir o cara desfilar suas sensações e ‘penalidades’]. Então decidi: ---- Moço! pare aqui:
--- Mas, moça a senhora tá na favela, sabe disso?
--- Sim eu sei, mas nada de ruim irá me acontecer. E depois também tem seu lado aí, de ter que voltar e tal
---Não quanto a isso a senhora não se preocupe.
--- Moço, para o táxi e fim.
Ele parou, eu paguei, quando ia saindo ele disse:
--- Tem guardas na favela viu dona?
Sorri gentilmente, atravessei um pedaço da favela, enfrentei o trânsito a pé, subi uma subidona e parei no ponto de ônibus mais perto que tinha, não deu nem dois minutos, chegou o buzão que eu queria, subi feliz naquele coletivo [eu disse mesmo isso? de subir feliz num buzão? é eu disse...] e finalmente relaxei.

Ah! Um detalhe, o taxista não descontou a bandeirada dois, perdi meus 0,40 centavos.


texto by Solange Mazzeto
[verídico 'antes não fosse']

NUA

nua em teus braços, sinto-me rainha
vertiginosa sede me escapa
teus lábios são meus
os prendo na língua
tua pele se inebria da minha
danço para ti em véus
qual doce vislumbre és tu
de teus olhos toca-me a delicadeza
e generosa
me revelo a ti
...


TEXTO: Solange Mazzeto

sábado, 25 de junho de 2011

Fumaça de cigarro



o rosto destoava
ou eram os olhos

ela ali fixada
ensandecida

ele chegou mais perto
ela já embriagada [por ele]

a voz veio no ouvido
incandescente

ela balbuciou alguma coisa
ele sorriu

a paixão tomou conta
tudo em volta
coloriu



TEXTO e IMAGEM: Solange Mazzeto

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Macho

ah! o macho
acirrado
provocador

que te coloca
de lado
de baixo do aspirador

ah! o macho
dodói
gemendo na cama

com febrinha
de 37 graus , vírgula 2
ah! o macho
que te arrepia
sem mesmo
você o ver...

macho!
os de essência
são muito bons
...



TEXTO: Solange Mazzeto

terça-feira, 21 de junho de 2011

Teu tudo

guardo teu cheiro
na taça do segredo
na mesa virada

guardo teu jeito
na pele
na íris

guardo teu tudo
na garganta
e bem
dentro de mim


TEXTO: Solange Mazzeto

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Meu homem

meu homem tem o perfume da terra
as mãos calejadas
a boca desejada

meu homem tem a delicadeza da rocha
a percepção do artista
a palavra de mestre

meu homem tem a presteza do caçador
a alegria de menino
e que mais tem o meu homem?

o encanto da ternura que me faz úmida
antes mesmo de me... tocar.


TEXTO: Solange Mazzeto

Outonal




Outonal



Caem as folhas mortas sobre o lago;

Na penumbra outonal, não sei quem tece

As rendas do silêncio… Olha, anoitece!

- Brumas longínquas do País do Vago…



Veludos a ondear… Mistério mago…

Encantamento… A hora que não esquece,

A luz que a pouco e pouco desfalece,

Que lança em mim a bênção dum afago…



Outono dos crepúsculos doirados,

De púrpuras, damascos e brocados!

- Vestes a terra inteira de esplendor!



Outono das tardinhas silenciosas,

Das magníficas noites voluptuosas

Em que eu soluço a delirar de amor…




POEMA: Florbela Espanca



IMAGENS: Solange Mazzeto

sábado, 4 de junho de 2011

Ele vem

é trapaça
o sono é vento
a tempestade é granito

em gole ele vem
na temperatura ideal
marcar
território

estampando na cara
o gosto maldito
do amanhã


TEXTO: Solange Mazzeto

Horas batem, sinos rompem

no retrato a mancha
de suor escorre

lento exagero

flor perpétua
solamente

roxa


TEXTO: Solange Mazzeto

terça-feira, 24 de maio de 2011

Urgência

ele chegou no corcel vermelho
com cabelo despenteado
ar de namorado

ela o recebeu no vestido dourado

e se fitaram

não tinha urgência
tinha malicia
de ordem

despiram-se
e se tornaram
almas
des[atadas]


Texto:
Solange Mazzeto

terça-feira, 5 de abril de 2011

Do ontem



foi do ontem

é o agora



a memória

ousa

cisma



tem medo

e uma infinita

saudade


TEXTO e Fotografia: Solange Mazzeto

quarta-feira, 30 de março de 2011

Duzentos por hora

câmbio em alta tecnologia
sistema de ponta

cruza a ponte controvérsia
da história da máquina

flecha, monte de Vênus
sexo na velocidade máxima

marcha a ré
espera
solta a primeira marcha

desce devagar
...
respira...
solta o freio
vai


TEXTO: Solange Mazzeto

quinta-feira, 10 de março de 2011

Teve rima, teve roda




suavemente
encostei sua voz
na beirada de minha ilusão

colhi frutos doces e aveludadas rosas

foi macio o passeio
teve rima, teve roda

mas o fio de esperança
cruzou com o fio da desconfiança

surgiu fiapo pra todo lado
surgiu vigas grossas
e lágrimas queixosas

subi a ladeira de vidro
escorregava, eu caía
muitas vezes, machuquei o joelho
e não conseguia rezar

hoje acordei na descida do boi
rezei uma ave-maria
acendi uma vela cor da vida

olhei de cima, vi abaixo do túmulo
resfriei a cabeça
tentei fechar o coração
mas a chave de ouro
tava na minha mão

relanceei um olhar enviesado
vi a realidade estampada em cores cítricas
visitei minha arte
rumei pra luminosidade

escrevi esses versos
e me acalmei
abraçando a doce sina
a sina de não morrer
...


TEXTO: Solange Mazzeto
IMAGEM: ADAGP

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Avesso





é a lambida do inferno

com suas

taras

e

decretos



com os dentes da frente

emparelhados

fazendo silvo

fazendo arte

fazendo birra



é a manipulação da gengiva

do grelo

na saliva



é o demônio esparramado

servindo vinho

bebendo pinga


TEXTO e FOTOGRAFIA: Solange Mazzeto

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A menina, a joaninha e eu

Tarde de ir no cinema, não sem antes comprinhas no Shopping, na fila pra pagar, a menina de brilhantes olhos azuis, cabelo em cacho dourado, com fita anil, perguntava pra mim, é ‘bicinho’? E então percebi que tinha uma joaninha perambulando por minha bolsa, me agachei junto a menininha ficamos olhando as aventuras da joaninha, sorri pra ela e disse, sim é um bichinho, e se chama joaninha, e ela ‘zoaninha’? Sim, uma joaninha!



TEXTO: Solange Mazzeto

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Senhor Edu, pra você!

A morte é um tiquinho de nada, pegue seu indicador e seu polegar, e meça meio centímetro de distância entre eles, fez? Isso é a morte, diz o Monge Antônio.
Somos eternos, temos alma, o que parte daqui é só o corpo, só a ‘roupola’ como diz o João Baiano.
Mas mesmo cientes disso, a experiência de não podermos mais tocar o corpo que se foi, é desastroso. Antes isso me deixava nervosa, irritadiça, hoje só me deixa triste.
É o luto da morte, a tristeza de saber que por hora não poderemos mais olhar pra aquele olhar que tanto nos fez bem na vida. Não poderemos ligar e dizer ‘oi coisa linda, como você está?’ e ouvir a voz debochada e rica.
No astral ainda não tem celular, peço que providenciem, pode ser?
Saudade, ô palavrinha danada quando se trata de dor de luto. Luto, palavra doída, palavra escura, palavra que machuca.
Edu!? Vê aquela menina de tranças sorrindo pra você? É a esperança querido, segue ela viu! Nos veremos logo, logo! Ti amu coisa linda!
E Deus! Cuida bem dele, e ao abrace bem apertado, sorria pra ele e diga que o quero muito bem! E que as rosas daqui de casa são todas dele. Sei que ele rirá e dirá: Dona Maravilha Mazzeto, a senhora tá exagerando...

TEXTO: Solange Mazzeto

PS: Não colocarei foto, ele não gostava de expor fotos dele.E respeito isso!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Você




que é o você de dentro do meu sonho
que ronda meu preceito
me faz sentir direito

que é o você de dentro do meu tempo
que rouba meu desejo
me faz sentir sem medo

que é o você de dentro de minh’alma
que rotula meus segredos
me faz saber amada

que é “o” você...?
[eu sei]


TEXTO: Solange Mazzeto

DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O dia




o dia foi direto
a cruzada no peito foi doente
a brisa se violentou
e
tornou-se ventania

reli Maria
visualizei o campo de rosas
todas mortas
emporcalhadas pelo chão

surripiei bondade
acalentei o frio
dilacerei meu nome
corri do céu

virei vadia
fiquei no cio

morri deitada na direita da porta
que entre aberta
pisoteava seu nome


TEXTO: Solange Mazzeto

DESCONHEÇOA A AUTORIA DA IMAGEM

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Navego

nos teus dedos
de amante

navego borboletas
colho rompantes

na tua íris
vejo majestade

[fico princesa]

curvo meu dorso

te vejo claramente
despido

louco e delirante
gotejando os jatos
da luxúria

dos instantes


TEXTO: Solange Mazzeto

domingo, 9 de janeiro de 2011

Filosofia no Cotidiano - Rubem Alves pt1

Carlos Drummond de Andrade

(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

(Resíduo)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Translúcida




Desde menina eu gostava dessa palavra, translúcida, que quer dizer transparente, mas quando eu descobri essa palavra, eu soletrava e dizia: trans-lú-ci-daaaa.

As transparências nas emoções, nos sentimentos, sempre levaram minha mãe a me dizer:
--- menina besta que se mostra a toa.

Tempos se passaram, aprendi a suar o nariz sozinha, a limpar meu rosto de alguma baba, aprendi a amarrar os tênis, a engraxar meus brilhantes sapatos escolares.

Mas a ideia de: ‘você é besta’, não me largou.

O caminho por vezes, tanto no tato, no trato, no trajeto de um olhar ao outro, é tortuoso, com fagulhas quentes que nos fazem chorar.

Agora enquanto escrevo, a cozinha está lavada, os pratos empilhados no armário antigo, a casa cheira a cera daquelas antigas, e o pão assa no forno velho, pois não quero um forno novo, tenho medo que meus pães e meus bolos não assem mais como agora...

E nisso tudo tem o soar de chuva de um verão estranho, mas é verão.


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

domingo, 2 de janeiro de 2011

Mal nenhum




o demônio corre nas veias
discorda, briga
interrompe, distrai

escape dos conselhos inúteis
da vida vadia

será?

quem quer por a pica dentro do forno e assar?

o mundo real é vermelho
o sorriso amarelado
o dente é doente
a mente infame

que será?

não faço ideia

demente, dormente
o dia amanhece

antecede
...
cede
...
distrai


TEXTO: Solange Mazzeto
IMAGEM: Tascha

sábado, 1 de janeiro de 2011

Bolo pro namorado



fiz um bolo lindo,
daqueles que a gente faz
pro namorado

peguei os ovos da galinha
botei as gemas, o açúcar
fiz um girado

as claras em alva postura
declarava o tratado
de que
amor e compostura

faz a boca render
beijo
e um bem
danado


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM