terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O marido da vizinha



da janela de minha alma avizinho o finado defunto
o marido da vizinha
ele se vinha já de um tanto acabado
pelas mentiras da vida
acamado ficara por três dias
e morrera no dia de ontem a tardezinha

ela de um tanto acabrunhada
rezava as tantas Aves- Maria
era reza de soluço
debruçada encolhidinha

na cerca ao lado o galo cantava
um canto entristecido, melancólico
enquanto isso, triste suspiro eu tirava
de minha sina

e pensava já na morte
essa morte visitante
que não escolhe se é de dia
se é de noite

se é de dinheiro
ou se é sem tostão
essa morte ladina
que vem roubar de sonho de padaria
até sonho perfumado do lírio da manhã

e ali me vou com meu pensar
arrebatado de pujança
inaugurar o vestido preto
pra mor de ir dizer adeus
ao já enterrado
finado...defunto...
marido da vizinha


TEXTO: Solange Mazzeto
DECONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Metade direita do verso




no soneto de sua pele
mil folhas de pétalas
abrem meu sorriso

na dianteira da sala de visita
minha saia anda
insinuando o amanhã

na fotografia de seu rosto
minha íris pulula

narro estrofes
na dança de seus olhos
o futuro é hoje


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

Memória de meu corpo




bailam vampiros
demônios crescem

na noite
sinto-me
bela

na treva
vejo
o
escaravelho

dogma
do perfume abandonado


TEXTO Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

domingo, 19 de dezembro de 2010

Já não sei que horas são... [Alzheimer]


já não sei que horas são



o tempo parou dentro de mim

a dor afugentou o sonho

o controle... parei de sentir

franzina estou na cama

pequenina, quase igual criança

quero o ventre de mamãe

cadê mamãe?

não a enxergo

não a vejo

mas a quero...

meu coração bate descompassado

sinto algo parecido com sede

não sei se sinto mais fome

mas, sei que algo vem e mastigo



hoje eu lembrei do paraíso

que tanto queria fazer

lembrei do ninho do passarinho

e não pude resistir

e falei

mas, a voz que saia de minha boca era estranha

resolvi calar-me

que agonia insana



texto by Solange Mazzeto



imagem: AP Photo

Pálpebras


hoje estou triste

pesarosa

estou num momento entre o limbo e a cruz

onde todos os pensamentos que pensei

se exibem majestosos

onde todos erros que não quis na vida

me agarram e me torcem



hoje estou enferma

na emoção e nos 'meios'

nas escovas e nos pincéis

e me agarro no fio comprido da vida

que sinto esganiçar



hoje estou cansada

de fingir ter forças

de chorar até secar o sal

cansada de me consumir por bobagem

e de ser quem sou



hoje estou de pé



porque tenho que ficar de pé

mas eu queria deitar

cerrar as pálpebras e dormir

sem mais acordar...

... aqui...



texto by Solange Mazzeto

desconheço a autoria da imagem

Amar hoje por Fabro Carpinejar

Amar é uma vontade danada de andar de mãos dadas durante o dia, e de pés juntos durante a noite. E contar o seu dia, e perceber que só teve realmente um dia quando tu contou ao outro o teu dia, isso é amar! Carpinejar

domingo, 12 de dezembro de 2010

Relíquia




quem sabe do avesso?
do decote?

da marcha até a boca
da rosa sobre a sopa?

quem diz do que será?

ao passo lento
acho vogal
mas...
cismo com ponto
e
vírgula


TEXTO E FOTOGRAFIA by Solange Mazzeto

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um anjo me disse





um anjo me disse
ame
e me deu fantasiosas ideias

mergulhei fundo
descobri o sorriso


abri as antenas
mudei a estação

tomei cachaça curtida
na luz do lampião

subi a serra
montei ladrilhos

e vez ou outra eu perguntava
ao anjo

continuo amando?
e ele me dizia
sim


TEXTO by Solange Mazzeto

DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ruflar

sopra o vento noroeste
na asa de um anjo

molha em gozo fátuo
a alegria

sussuro pra ventania
‘não me amoles’

me deixe no sonho
de rezação

abaixo
verá descrito
meu sopro
meu destino
minha paz


TEXTO by Solange Mazzeto

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Magistral




o fígado padece
apodrece
dissolve

lama nos olhos
figura marcada
silueta diluída

marcas da exposição
nas unhas do coração

indelével
ela se doava

e paria



TEXTO by Solange Mazzeto

DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

sábado, 20 de novembro de 2010

O que ando sentindo, ando dizendo



Me levantei, acordando mais tarde que de costume, filhota não estava em casa, tinha ido dormir na casa de uma amiga. Cada dia mais me acostumo com essa “ausência”, e quando acordei hoje, pensei “Não é a toa que o povo do USA, ‘tiram’ a filharada de casa aos 18 anos, quem não sai, é considerado ‘debilóide’, até pessoas consideradas ‘especiais’ saem de casa, quando podem arcar com uma vida longe dos pais. Tempos atrás vi um documentário de um casal com síndrome de Down conquistando essa ventura de serem um casal como qualquer outro, confesso que me emocionei pacas, a mulher do casal com a síndrome era mais ‘espertinha’ que o cara, e então cabia a ela, manejar mais a vidinha deles.

Achei bonito isso, depois ela queria engravidar e as famílias ficaram em polvorosa, mas ela foi adiante, a criança nasceu saudável e sem a síndrome. Eu exultei, não só pela saúde do bebê, mas pela garra dessa menina.

Aí me deparo com tanta fragilidade, com tanto medo e ócio que por vezes sentimos em relação a nossa vidinha né!

Não quero aqui me dar sermão e muito menos servir de sermão pra ninguém, mas é de se pensar nos ‘algos’ que não fiz, e nos ‘algos’ que ando fazendo.

Uma das coisas que faço com mais frequencia é dizer o que sinto, sabe?
É eu ando dizendo mesmo, caso a pessoa, ou as pessoas andem me estranhando, o problema deixa de ser meu e se torna dela [s].

É isso, hoje é assim que ando sentindo, e vou ali curtir o sol que tá me convidando a sorrir.


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Trilha Sonora da minha vida

While My Guitar Gently Weeps
The Beatles

Composição: George Harrison


While My Guitar Gently Weeps
I look at you all see the love there that's sleeping
While my guitar gently weeps
I look at the floor and I see it needs sweeping
Still my guitar gently weeps

I don't know why nobody told you
How to unfold you love
I don't know how someone controlled you
They bought and sold you

I look at the world and I notice it's turning
While my guitar gently weeps
With every mistake we must surely be learning
Still my guitar gently weeps

I don't know how you were diverted
You were perverted too
I don't know how you were inverted
No one alerted you

I look at you all see the love there that's sleeping
While my guitar gently weeps
I look at you all
Still my guitar gently weeps

(I look from the wings at the play you are staging
While my guitar gently weeps
As I'm sitting here doing nothing but aging
Still my guitar gently weeps)

sábado, 13 de novembro de 2010

Senhorinha lilás




Ali estava eu, pleno sábado de manhã andando pelo Shoppping, com uma sensação ótima de liberdade, de não ter que esperar ‘marido’ pra nada. Porque quando casada, era quase sempre uma carinha meio feia, um bufar de “ai de novo, ela vai entrar naquela loja...”.

E quando eu estava de bom humor, levava na base da brincadeira, quando não, a diversão “shopística” acabava de vez e íamos embora. Por vezes, pra amainar e não brigar, eu fazia piada, mas isso cansa por demais, fingir que tudo tá bom.

Pois bem, hoje como, às vezes, faço, observei as pessoas na rua, e no Shopping, o que é um excelente laboratório pra quem é atriz como eu.

Senti fome e fui comer, na fila do fast food aquela demora de gente que não sabe o que escolher e fica olhando pra comida, como se fosse um ET, sempre tem uma mulher com o regime decorado, que pega uma azeitona, várias folhas verdes, coca diet e tá acima do peso ‘ideal’.

Depois sempre tem uma mulher magra que pega muita comida e o povo morre de inveja, e ainda pega doce de sobremesa e esbanja charme [é hilário isso].

Enfim, de repente vi uma senhorinha de cabelos lilás, sabe cabelo roxinho, quando criança eu dizia pra minha mãe, ‘mãe quando eu ficar velhinha irei pintar meu cabelo de roxinho’, minha mãe revirava os olhos e sorria, e me dizia ‘é feio filha’, ‘é não’, eu retrucava. Juro que achei que essa tinta não existia mais, mais existe. Saquei meu celular pra bater foto dela, mas achei que seria indelicado, a menos que eu pedisse pra bater a foto, mas também achei indelicado e fiquei ali, vendo a senhorinha lilás...

Depois que almocei, fui sassaricar pelos corredores volumosos de gente, e vi um casal, a mulher emocionada, olhando a pulseira que acabava de ganhar do, namorado, ficante, sei lá. Só sei que foi uma cena bonita, embora, ela não o agarrou pelo pescoço e nem lascou-lhe um beijo [que era o que eu esperava ver].
Ela apenas olhava pra pulseira, já no braço, e os olhos traduziam a emoção parada, fragmentada, sem gestos de eloquência. Como, talvez, eu não agisse assim, me perturbou, se eu fosse a diretora do ‘filme’ dela e do cara, falaria pra ela: “ olhe pra ele, balbucie alguma coisa inteligível, depois diga que o ama e o beije”. O corpo dela queria isso, os sinais eram evidentes, ele também ‘dizia’ isso com a expressão corporal. Mas nada; continuaram andando, sorrindo um para o outro, ela balançando a cabeça como ‘não acredito no que to vendo”, literalmente embasbacada, ai pensei, acho que ela não consegue falar de tanta euforia, isso pode acontecer mesmo, aí na minha malvadeza mental pensei: “vichê e quando ela ganhar alianças? Terá um colapso”?

Parei de observá-los, e continuei caminhando, já meio agoniada, porque detesto Shopping lotado.

Subindo as escadas rolantes, vi a cena que embasbaco sempre, crianças, e derreto mesmo, não tem jeito, gosto dos pequeninos, se seguro um neném no colo, sempre meus olhos enchem de lágrimas, tento me segurar, e disfarçar, mas é sempre isso, ‘me acabo’.

E ali estava ‘minha’ criancinha predileta no quesito beleza, as japonesinhas, ou como dizia o Cazuza, as japoninhas, toda enfeitadinha, vestidinho, sapatinho, lacinho no cabelo, e aquela boquinha em forma de coração, desenhadinha de tudo. E a avó babando pela netinha, quando me olhou, sorriu aquele sorriso terno que algumas avós têm, sorri pra ela de volta, e segui meu caminho.

Entrando numa loja de departamentos, vi um casal, a mulher histericamente perguntando ao marido, que roupa levar, e ele qualquer ‘uma tá bom’. Ela bufou, brigaram e ele saiu da loja.

É vexames, coisas de casal.

Pois é, peguei um táxi que eu tava com compras pesadas e tive o prazer de ser trazida por um senhor paranaense, vivendo há 38 anos aqui em Sampa, com um sotaque e uma alegria contagiantes. Viemos conversando como dois velhos conhecidos, e antes de me deixar na porta de casa, me disse: moça, você é extremamente amistosa e simpática, isso faz de você mais linda do que já é, porque você já percebeu que a mais linda pessoa, se ela for antipática, ela fica é muito da feia? Moça, eu falo errado, mas gosto de assim falar. Gargalhei e disse, mais aí que reside seu charme, meu senhor!

Rimos, paguei o taxista e disse: e o senhor é um homem muito legal também, tem colegas seus, que nem olham pra cara da gente, tratam mal, porque a corrida é curta. É eu sei, esses daí, nem pra mim sabem mostrar os dentes moça!
Rimos de novo, entrei em casa, satisfeita, e com uma promessa, não sei se ainda dividirei o teto novamente com outro homem, mas tem algo que não farei mais, é levar o ‘coitado’ num Shopping lotado, e ainda perguntar opiniões disso e daquilo outro.

Dia de sábado que nem esse? Poderia ser melhor? Não, a menos que eu tivesse com mais grana pra gastar.


TEXTO: SOLANGE MAZZETO
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vontades Nuas




tenho vontades nuas
vontade de tombar a cabeça
em seu ombro
e sentir tudo que você emana

mas
.
.
.
essas mesmas vontades
que
cintilam pela minha cabeça

fervem atitudes

esfriando
sentimentos



TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

Texto de Marcelo Nocelli - "O Teatro Nosso de Cada Dia"

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Hoje a dor me venceu.


(dedicado ao meu querido e muito amado, Dr. Alfredo Castro )


Hoje a dor me venceu. A fadiga me tocou fundo na ferida da melancolia.
Deixe-me enveredar pela dor da falta, ele sabia de mim mais que eu, ele me olhava com uma zanga amorosa que me fazia querer melhorar e me curar.

Acredito que ele vive numa linda estrela cadente, e que vez ou outra quando o Pai da Vida deixa, ele vem me visitar.

Minha alma o sente, por vezes contente com meu caminhar.

Quando ele se foi, parte de minha alegria, se foi. E então quando todos a minha volta acharam que eu não suportaria, eu suportei, só que nesse suportar, eu deixei de sorrir pela alegria, e comecei a sorrir pela fibra de que sou feita.

E sou feita de sonhos coloridos, mas hoje eu cansei, aniquilei adereços, acabrunhei a alma, ruminei e senti toda dor que a perda dele me fez até o dia de hoje.

Achei por bem, me dopar, e meu cérebro relaxou, agora subirei ao banho, farei uns ásanas e dormirei...quem sabe sonhe com ele, e minha alma saia leve do meu corpo e eu o encontre.

Amanhã é outro dia, esse já avermelhou e se extinguiu...

Hoje morri amanhã eu [re] vivo.

TEXTO e IMAGEM: Solange Mazzeto

PS: Não bebi nada de álcool [eu não bebo], no copo é chá mate. Mas o texto é verídico e a dor foi real.

Olho-me




olho-me
recomponho-me
sei de mim

adiante revejo que a dor
deixou um espaço

olho-me
diante do espelho
espelho-me

meu sorriso brota
do mais puro

cintilante milagre

aquele
onde posso escrever...



TEXTO E FOTOGRAFIA:
Solange Mazzeto

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Acordei com vontade



Hoje acordei com vontade de dar beijo, sabe daqueles beijos de cinema antigo? Tipo do filme “E o Vento Levou”
E por falar em vento, o vento anda levando tanta coisa ruim embora, que tem hora que me sinto desequilibrada, mas estou firme e flexível nas mudanças e ventanias existênciais.
Mas voltando a vontade de beijar, queria uma boca boa, até tem uma que conheço, mas... acho que ainda não é o momento, aí, ai que tormento...
Quando eu cismo, eu quero, reconheço minha rabugice infantil, de “não quero esperar”!
Mas não posso colocar a carroça na frente dos bois.
Enfim, ce là vie, e que seja uma vida em rosas...

TEXTO: SOLANGE MAZZETO
FOTOGRAFIA: do filme E O VENTO LEVOU

quinta-feira, 21 de outubro de 2010



Ela ouviu da janela do terceiro andar, o badalar do sino da igreja. Enquanto ele assobiava uma canção dos Rolling Stones e fazia a barba, nesse ínterim, ela trocava sua meia de seda que rasgara, por outra nova.
Desceram as escadarias meio juntos, meio separados, contando sonhos pelos degraus.
Sentados frente a frente, a mente dele reluzia contando sobre suas conquistas, e vez ou outra a acariciava pelo ombro, projetando um pouco seu belo corpo pra frente, ela vez ou outra, roçava os pés pelo tornozelo dele, fazendo seus olhos dançarem num frenesi calmo e transparente.
Ele não a quis, julgou deixá-la num pedestal, ela se viu bem puta, com tapa-sexo, e nos ombros nus, a pistola calibre 28.
Ela não teve coragem de se matar, mas o matou, não com a pistola, mas o manto da invisibilidade


TEXTO: SOLANGE MAZZETO
deconheço a autoria da imagem

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Foi? Não foi? Foi...




um sonho sonhado a dois
ou um misto de absinto com maconha
mas foi...

foi romance de outra época
acocorado no jardim
foi algo inusitado

foi uma magia libertina
ansiosa
engolfada

a ‘fada-eu’ acreditou
em cada parte das palavras
em cada rito de amor

mas não foi amor? foi?


Texto by Solange Mazzeto
Imagem: desconheço a autoria

domingo, 17 de outubro de 2010

Se pudesse, seria




nove liras
na boca

movo o botão de areia
pálida de rubor

os olhos fecho ao prazer
abro ao “dever”

me aproximo de você
[en]canto


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

Rubem Alves [o cara q me lê na alma e que eu queria ter conhecido ainda menina]

Não foi à toa que Adélia Prado disse que "erótica é a alma". Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"

Rubem Alves

Vale a pena ler...

http://pessoal.onda.com.br/charlesb/texto/razoamor.htm

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vestida de calor




um calor que povoava a ideia

e fervia o doce de leite

que jazia morto

no fundo da panela



doido, era doído

o sussurro do vento

alicerçando o sopro

que vinha do pensamento



sentia gula, ânsia

sentia o pó adentrar na pele



queria o vale dos teus dedos

entrelaçados nos meus dedos



era doido sentir tua petulância

era cruel

era dor insana



ver tua boca noutra boca

tua luz em outro olho



era doido

e eu

morri

.

.

.

texto e imagem by Solange Mazzeto
nessa foto estou de Cíntia, uma personagem que escrevi e ganhei premio de melhor atriz no concurso do Teatro Santo Agostinho.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Amantes








teu corpo

química segura
e
quente


texto: by Solange Mazzeto

ESCULTURA de Terribelli- Os últimos amantes -

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

É quem sabe




talvez não haja o que odiar
o que temer

quem sabe o campo de trigo
não me traga
abrigo

e a luz do luar
me cause náuseas

quem sabe um dia odiarei
pensar em
...
amar de novo
e tão terrivelmente
que me vendo só
me sinta [im]potente


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

domingo, 26 de setembro de 2010

EITA - Sarau -




Teatro vem da palavra grega, thèatron, que significa: ‘lugar de onde se vê’.

Nesse EITA, teremos o Teatro Nosso de Cada Dia, como tema central, sem, contudo ser obrigatório.

Mas veja vocês, lugar de onde se vê, na vida é o que conta, é o ver, ouvir, o escutar. Poucos são os que escutam; geralmente a gente ouve, já pensando em responder, ‘abençoados’ os seres que escutam, sem pensamentos antecipados...

O que eu quero de vocês com esse Tema? Antes de mais nada fazer vocês pensarem, pra então sentirem o bombear sanguíneo da emoção, da audição, quero que vocês se enxerguem; enxerguem seu teatro, sua abundância, seu significado.
E me apresente seus conceitos, seu texto, que participe comigo do tablado chamado vida, essa vida aí sua de fora, de dentro, de captura de máscaras, de sonhos e de realidade.

Teatro é vida interior, é paixão, é raça, é cor, borá brincar de 'teatrinho'?

Te espero, dia 05 de outubro, às 20:00 na rua Mourato Coelho, 585, no bairro de Pinheiros, tá ok?

Texto e Imagem: Solange Mazzeto

PS: Clique na imagem que ela aumentará o tamanho!

domingo, 19 de setembro de 2010

Me [...]




penas em mim
tua face milagrosa

prensa tua boca
em minha anca

denuncia teu cheiro
por meu corpo

rente, bem rente
me crava o dente

alfineta minha vaidade
assuma teu teatro

me queira
me queira
me queira...


TEXTO: Solange Mazzeto

DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

Teatro




mundos...mudei

fiz da pausa, o pesadelo
da bruma, a ciência

debrucei na janela da vida
plantei gerânios
vermelhos

distribui lágrimas
cinzas

fiz do meu terraço
pontes
refiz a lua
nas quinhentas voltas

no abutre revi a luz

fiquei sentada
dolorida

levantei
sorrindo
enxuguei a cisma
amei
nossa, como amei

e
por fim
enquanto ouço aplausos
eu
vivo
respiro
e dôo
calor
em meio a exibições explicitas de amor...


TEXTO: by Solange Mazzeto

IMAGEM: DESCONHEÇO A AUTORIA

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

TALVEZ



não é muito
nem pouco
nem é o bastante

o cigarro queima
a mente
entorpece
[o fungar]

surge algo diferente no ar
mistério, imagem banida
cinema

talvez haja um tempo
sem tempo
da gente mudar

emudecer
tocar...


TEXTO: Solange Mazzeto

DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Rubem Alves no Programa do Jô 2/2

Rubem Alves no Programa do Jô 1/2

PS: Eu o amei, eu o amarei e eu o amo.





Um dia eu pensei que sentiria saudade, mas você estava ali comigo, recolhendo instantes, querendo uma neta, e quando engravidei foi uma festa bem nossa, éramos festeiros por natureza, riamos tanto, minha barriga foi crescendo, a sua neta se desenvolvendo, e nós ali na quase certeza de ser a tão sonhada menininha, queríamos a surpresa e não a ‘ansiedade’ do ultra-som.

E no dia 28 de setembro, na primavera, chegou a tão esperada netinha sua. Você sorria tanto ao vê-la, suas covinhas se abriam de par em par.
Você acompanhou tudo, os enjôos, as decepções, o meu medo diante de tudo, você me dava segurança e colo, era tão bom quando eu queria doce sírio e você corria buscar, e depois cortava pequenos pedaços de cana pra que eu pudesse chupar, e ainda descascava pinhões pra eu comer, e corria na padaria toda vez que eu dizia estar indo até a sua casa, e comprava o pão doce que eu gostava...

Eu por minha vez, fazia sua gelatina diet com pequeninos pedaços de maçã, e quando você dizia que estava vindo, eu cronometrava a hora para que quando você batesse na porta, o pão estivesse saindo do forno, e a mesa já estava posta, com minha porcelana cor-de-rosa.

Era um tempo onde o mal parecia não existir, onde a ternura nossa, era tão palpável e tão real, que eu imaginava que sempre seria assim.
Mas, quando a nossa pequena princesinha, tinha 6 meses, você resolveu 'partir', deixando um vazio tão profundo em minha alma, que minha asa ficou balançando ao léu...

Mas, eu creio que você está sempre pertinho, acompanhando o desenvolvimento de sua neta, e sorrindo para nós através das nuvens. Quando pequena, ela dizia, o vovô "Zael" tá ali, sorrindo pra mim mamãe, e apontava o dedinho em direção ao céu!

O mundo é mágico, ainda creio nisso, e o amor é eterno, e o que poderia nos separar não existe, pois somos todos um. Mas a falta do abraço, por vezes ainda perdura, e queria dizer a quem está lendo isso, que abracem e beijem aquela pessoa que está com você agora, porque um dia pode ser tarde demais...

Esse cara aí descrito, foi meu sogro, foi meu amigo e foi um dos homens mais íntegros que tive o prazer de ter na minha vida.

A você querido Izael, te deixo um PS: Eu o amo!


Solange Mazzeto

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Se não houvesse

se não houvesse o olhar
talvez não houvesse o
primeiro beijo
e sem isso não haveria,
quem sabe
o
toque dos dedos

se não houvesse a música
talvez não houvesse
o brincar na orelha dele
e nem a voz dela a sorrir
em sua nuca

se não houvesse o violão,
haveria talvez
quem sabe
o
corpo dela
...

a dedilhar o som
a deixar o chão
...


TEXTO: Solange Mazzeto

domingo, 22 de agosto de 2010

Sem a poesia



Sem a poesia meu mundo seria muito chato, quando por ventura me sinto aborrecida, alegre, feliz, chateada, emburrada, com TPM, enfim, eu leio poemas, porque assim fico perto dos poetas que aprecio e curto.

Tem poemas que acabo meio que sabendo de cor, mas procuro não deixar que cristalizem dentro de mim, para que sejam sempre poemas novos, que “estarei lendo pela primeira vez”, para que agindo assim eu possa me encantar de novo, e de novo, pelos mesmos.

Certo dia andava eu pela calçada, a mesma calçada com seus buracos e com suas árvores...quando vi uma nenezinha balbuciando “ããã neném, neném" e apontando o dedinho pra cima, e eu pasmada, ué a menininha está vendo neném aonde? No céu? Olhei pra cima, olhei pros lados e não vi neném algum. Na volta, ‘vi’ a placa e nela tinha um rostinho de um bebê, bem apagadinho... e desde então venho observando melhor as coisas a minha volta, mesmo que no mesmo caminho, há sempre algo novo e diferente. Hoje me deparei com uma árvore ‘nova’.


TEXTO e IMAGEM: Solange Mazzeto

Clarice Lispector

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

O beijo de Klint




Gustav Klint, O pintor da alma feminina. Dedicou-se às emoções positivas.


O Beijo


Corpos díspares, suave proximidade.

Leveza sensual, extrema sensibilidade.

Os braços se entrelaçam em calma atmosfera.

Não há antes, não há depois. Não há uma, não há um.

Há só o Ser. Ser só um, Ser só dois.

A união das mentes em um momento único,

onde todo o material se dissolve.

Não há paredes, não há chão, não há céu, não há mundo.

As fronteiras atingem o inimaginável.

Só existem cores, no espaço agora criado para a paz.

O carinho da não fusão, o doce retraimento,

A certeza de não estar só,

no mágico encontro dos lábios.


(Texto de Little Saint, publicado em 1936 na Inglaterra)

OLHOS DE POETA

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio, aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é alegria! Aconteceu, entretanto, faz uns dias, que eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal, sem surpresas. Entretanto, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E piro é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo meu causa espanto...” Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui até a estante de livros e de lá retirei as Odes elementales, de Plabo Neruda. Procurei a Ode à cebola e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘...rosa de água com escamas de cristal...’ Não, você não está ficando louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver”. Fiquei mordido de curiosidade. Cheguei em casa à noite (todo mundo já estava dormindo), fui à cozinha, escolhi uma cebola robusta e cortei uma fatia, no sentido vertical, que fica com o formato de um pingo d’água. Coloquei a fatia num prato e cuidadosamente “pinguei!” o pó de colorau no centro da fatia. O centro ficou com um vermelho forte que se foi espalhando, assumindo o formato da chama de uma vela.

TEXTO: RUBEM ALVES

sábado, 14 de agosto de 2010

Escrever a mão




O vicio de digitar já tomou conta. Parece que não sei mais escrever a mão, fogem as sílabas, me sinto apatetada, que louco isso.
Eu tinha a caligrafia lindíssima, agora é só garrancho, quase letra de médico, se ainda eu fosse médica, tava salva, mas não sou, toda vez que tento escrever a mão é um desastre total, tempos depois que ‘escrevinhei’ tento ler e? Nada né, não sei o que escrevi! Fico na base da adivinhação, quase um Braille, sem saber ler Braille.

Solange Mazzeto


desconheço a autoria da imagem

Penso na existência da paz.





Penso na existência da paz, aquela que vem de dentro do nosso macio, uma paz de calma, de nascer de novo, de construir caminhos, abrir as tampas da dor e explodir pra não implodir.

Cada pedaço de cor tem um tamanho, tem um antepassado, tem um comprimido imprimido.

Cada um tem a meta, a distância da saudade, tem a paciência congelada em traços dorsais.

Num instante fugidio a mente divaga, afaga... Conversa com palavras maleáveis, com gestos suaves, com ternura azul.

Sonhos fantasiam cada pedaço de terra, cada concreto cinzento, cada linha do arco que
divide-nos em seres humanos e bichos.
Mundo, vasto e tão pequeno, ali uma folha a correr do vento, acolá uma chama a brilhar no mar sem fim, sem limite... Sem tédio, sem vazio, sem buraco, porque o mar caminha sem pensar no dia de amanhã, ele cavalga, trota, rosna, se quebra, requebra, mas vai...

Cada um tem um olho a brilhar, adentrar, confiar, permitir...

Paz vem do alto mundo do coração, paz vem da pedra inoportuna que surgiu e partiu fragmentada demais pra estragar rumores de amor...
Paz vem do coração viajante, da mente esfumaçada e aqui estou a escrever palavras...


TEXTO: Solange Mazzeto
DECONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

ROSAS



despetala a lágrima
e de cada gota

a mancha da mágoa

cai voraz
na palidez do sonho

um sopro da morte
outro da vida

perpassa

alojando no cérebro
pétalas
guarnecidas


TEXTO: Solange Mazzeto

DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

CONVITE - BIENAL

Minha 1ª Antologia de Poemas, ganhei o concurso com esse poema abaixo, e estarei autografando o Livro Antologia de Amor, na Bienal- [Anhembi]stand M59, na Avenida Olavo Fontoura, nº 1.209 – Santana – SP.- dia 15 de agosto de 2010[domingo] das 18:00 às 20:00 - Espero vcs lá!


GUARDO O AMOR DOBRADO


guardo o amor dobrado,
com papel timbrado
num selo real

guardo esse amor
que nasceu nas entranhas
gerado em pacto natural

guardo esse [meu] amor
no conceito perfeito
de duas almas de peito

guardo [você]
meu amor

guardo [você] amor

sim eu
o
guardo

texto by Solange Mazzeto

É o ‘menino’

é a etapa ‘do’ antes

‘do’

finalmente



é um jogo de mãos,

uma palmada na bunda



é um vai que não vai

um esquenta a entranha



um ardor no seio

um esfregão na ‘menina’



é a mordida doída

que marca

e

[en]finca


TEXTO: Solange Mazzeto

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Mundo perfeito




você aí, eu aqui
[e... nossas bocas se misturando na poesia]


o dia passa
e eu aqui com frio na espinha
frio de... saudade

arrepio na nuca

e você ai
e eu aqui

o mundo poderia ser perfeito
é só juntar nosso soneto

baixa aqui
eu, você
e...


TEXTO:Solange Mazzeto


IMAGEM: Lorenzo Mattotti

segunda-feira, 12 de julho de 2010

É PECAMINOSO AINDA



dizer palavras sexuais
saber vontades
expô-las...

é pecaminoso ainda
e contraditório demais

século 21?
será?
por vezes não creio

mulher separada, ainda é mulher separada

é mais escondido o preconceito
que nem em relação a gays
mas é ato falho quando se percebe o olhar de critica
de anseio [que será que vão falar?]

é triste
isso posso garantir

vá a praia Solange
olhar o mar
ele não há de se incomodar


texto e imagem: Solange Mazzeto

Não se mate

Não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguem sabe nem saberá.


DRUMMOND

sábado, 10 de julho de 2010

Eclipse Edward e Bella




Belo filme! Fui ver hoje com filha e amigos dela. Adorei! Quero um vampiro igual ao Edward, haha

Voz de mãe



Hoje abri meus olhos antes do nascer do sol.

Meu rosto está radiante, falei com minha mãe ao telefone, sorrimos, lembramos de meu avô. Albino, era assim que ele se chamava, infelizmente não tive o prazer de conhecê-lo [morreu quando minha mãe tinha ainda 09 anos], mas minha mãe conta que ele era de pele clara, e se destacava pelos olhos, que tinham a cor do mel, mas daquele mel bem claro, mel de laranjeira, era descendente de alemão com português. Relembramos da frase que sempre ele dizia: “quem tem medo de cagar não come”. Rimos muito e minha mãe já com seus 80 anos, me perguntou espantada se eu iria colocar isso na internet, enquanto falávamos pesquisei e vi que essa frase é um ditado popular antigo. Ela se acalmou mais, riu e disse, ué já que tá na internet, que tem você falar sobre não é? Gargalhamos!

Ficamos de lero, lero, anos atrás minha mãe era avessa total ao telefone, falava sempre rápido e desligava mais rápido ainda, ela falava que era preciso ver a pessoa e não só escutar a voz. Mas eu vim morar em Sampa, outra irmã em Campinas, netos nascendo, e ela se viu obrigada a aderir mais ao telefone, e hoje, até diz que gosta, sai com celular e fala por aí, até no supermercado, coisa que ela sempre abominou, mas, como ela mesma diz, até de internet eu sei, até de e-mail eu sei.

Minha mãe é uma pessoa extraordinária, nem sempre assim o foi, ela era brava enquanto eu era mais menina, sempre falávamos de tudo, nunca escondi nada dela [eu não conseguiria], até hoje eu não escondo, conto tudo que me há na alma, mesmo que eu não conte, ela desvenda, ela ‘sabe’.

Até hoje quando vou a casa dela, no interior de São Paulo, a gente sai bastante pra bater perna, outro dito popular que usamos é que ‘parecemos couro de pica’, porque a gente fica num vai e volta danado. Bom isso ela não sabe que ‘deixei’ na internet, mas logo saberá.


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ele... ela.



ele quer
ela quer
ele tem medo
ela também

que há?

talvez haja
o medo do amanhã
mas existe o amanhã?

e se não der tempo?
que tempo?
cadê o tempo?

ela quer passear de mãos dadas
e dedos entrelaçados
pelos campos de flores

ela está viva
ele também está
e agora?

o que mais eles querem é uma resposta
abrem as janelas e volitam
alma com alma
pé com pé

quem sabe...


TEXTO e IMAGEM: Solange Mazzeto

Poema Começado no Fim



Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.
Este excesso de realidade me confunde.
Jonathan falando:
parece que estou num filme.
Se eu lhe dissesse você é estúpido
ele diria sou mesmo.
Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear
eu iria.
As casas baixas, as pessoas pobres,
e o sol da tarde,
imaginai o que era o sol da tarde
sobre a nossa fragilidade.
Vinha com Jonathan
pela rua mais torta da cidade.
O Caminho do Céu.


POEMA de Adélia Prado

IMAGEM: Solange Mazzeto

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Passeia



dos teus olhos
o passeio por
cada etapa

vislumbro teu cheiro
tua abertura de riso

(és inteiro... suave...)

tua voz embalada
por meu cheiro

arrepia recônditos
anuncia preâmbulos

toca-me...


texto Solange Mazzeto

foto: Raul Costa

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Já é tarde

rola e volteia
o pescoço desobedece
cede

golpeia o ar

penumbra
pernas rolam
bocas disparam

a seda seduz o trapo


by Solange Mazzeto

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Do ciúme


Do ciúme

(Solange Mazzeto foto e texto)



uma risca

arisca



marca a dor



frases caem

na lateral

do corpo



desponta o

nariz

arrebita a

bunda



o rouge cobre a palidez

...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Deveras



deveras sente o arrepio

a onda vai e volta

curva-se e deita

avantajada na delícia de ser plena



desejosa graceja a fada

que de leve toca

a flauta adormecida



[instante de pureza; dorme recolhida]



e lida com a emoção

que evoca os deuses



deusa pura, menina caiada

deusa nua, mulher desejada

vontade rubra

da boca

amada

...



texto by Solange Mazzeto


IMAGEM: Solange Mazzeto

Palavras



FOTO: Solange Mazzeto


A literatura é feita com as palavras que desejam morar no corpo. Somente assim ela provoca as transformações alquímicas que deseja realizar. Rubem Alves

terça-feira, 15 de junho de 2010

Testosterona e bola

Parecia final de campeonato. Fui almoçar no shopping, e pasme tudo parado, Sampa parou. Na loja de botas, os homens loucos, olhar vazio, ou melhor, na ‘bola’. O vendedor me disse todo sorridente:

----Vamos assistir o jogo na tela do cinema, em terceira dimensão.

Nossa! eu exclamei!

E ele:

---- Se a senhora quiser, pode ver também, não é só pra nós...

Fiquei imaginando, uma bola em 3D vindo na minha direção, e também os bumbuns dos jogadores, pernas encavaladas, o suor escorrendo e tudo isso em 3 D, não curti a visão, repudiei, e me concentrei nas botas que eu estava escolhendo pra comprar.

Fiquei indecisa entre uma com costura na lateral que dava uma elegância sutil, e outra bota com uma fivela não dourada, porque agora é um tal de ter só fivela dourada nas botas, que argh... Optei pela que não tinha nada dourado, só mesmo o marrom café.

Café, hum... Nesse frio que anda fazendo, é bom não é! Só que não tomo café, prefiro chá.

Na volta pra casa, o congestionamento reinante, apavorante, eu a pé, as pessoas meio que doidas nos carros, achei um horror isso hoje, será que o povo precisa tanto assim de ‘parar o tempo’ e se empolgar tanto pra ver uma partida de futebol?
Que será do Brasil daqui a 4 anos? Quando a Copa ‘vier’ pra cá?

Bom, melhor eu não pensar, o futuro pode ser uma miragem...

O hoje foi assim pra alguns, pra mim foi dia de trabalhar, de fazer compras, de olhar nos olhos da minha cachorra e ver que ela ama uma bolinha também, aliás, ela é louca por bola... Pois bem, é isso as pessoas são loucas por uma pelada, são loucos por bolas, senti isso no ar, bola e testosterona jogada no ar, driblando talvez as dores do cotidiano, é isso aí, querendo ou não, curtindo ou não, é Copa, é Brasil jogando, e querendo um Hexa. Pois bem que vença o melhor, não é assim?!


Solange Mazzeto

sábado, 12 de junho de 2010

Noite linda




noite gélida
mas minh’alma
aquecia o frio

compostura despida
rostos amigáveis
cigarro de palha

[luz azul e música de outono]

garoa fina inundava a retina
e descortinava a dança
da alegria


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Eu não sei



eu não sei se a cadeira é fria
mas sei que você me espia
na beirada da pia
na calçada do sol

não sei se meus passos
chegam ao ponto máximo
do teu auge

e nem se daremos mais passos

mas sei que minha alma
é una contigo

que minha fala é soberana

e que por vezes
minha vida canta
macia...

na reserva do fio
que nos une, nos liga
nos faz...
amantes


texto by Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Sobre sentir... ternura

“Sentimos que a criança que vemos dormindo no berço dorme também na nossa alma. E a alma fica tranqüila, como a criança. É por isso que mesmo depois de apagada a luz, ida a imagem física, vai conosco a imagem poética como uma experiência de ternura.” Rubem Alves.

Enquanto lia, me veio a mente, a imagem de um menininho que conheço e o qual eu gosto muito, como se fosse meu, e dia desses o vi sentadinho, e puxando um papo com ele eu disse:

--- Você sabe que você é muito lindo?

Ele naquela ternura imensa de criança que se sabe amada e amparada me olhou nos olhos, desviou o olharzinho, sorriu um sorriso de canto de boca, e me respondeu:

--- Eu sei!

Essa imagem dele, me ‘cura’ quando o sol se esvai por alguma nuvem escura que me emudece e me escurece a vista, e então é como um cheiro da manhã em meus pulmões...

Quando me lembro da falinha mansa, da mãozinha doce, meu coração se apruma e para de chiar.

Lembro de uma coisa que minha mãe fala até hoje, estando minha irmã mais velha já com seus 60 anos... Quando sua irmã era pequena, eu não queria que ela crescesse, queria que ficasse pequena, nisso tem piada em casa, porque essa minha irmã é a menor em estatura, mas em fé, é a maior.

É o Rubem Alves, me fala ao sangue, e também me cura de meus percalços, hoje cedinho ao lê-lo, ele me deu um remédio contra a depressão; balançar é o melhor remédio contra a depressão, providenciando já um balanço aqui no meu jardim, e quero bem rústico, porque gosto de coisas rústicas pra contrabalançar talvez com minha imensa doçura, ou pra eu aprender a ser mais áspera... Não sei ao certo, só sei que ternura é algo pleno em mim e eu gosto de ser terna, e lá vem minha mãe de novo... Você é boba, perdoa muito fácil as pessoas... Até hoje eu não sei ao certo, se perdôo fácil ou esqueço o que me fazem [quando machucam] só sei que sou assim... E gosto de assim o ser.



TEXTO:Solange Mazzeto

OS SURDO-MUDOS CANTAM

OS SURDO-MUDOS CANTAM: Aconteceu em Uberaba. Disseram-me que antes da minha fala haveria um coro de crianças surdas que cantaria o hino nacional. Desacreditei. Crianças surdas não cantam. Aí entraram as crianças no palco. Um menininho de não mais que quatro anos de idade olhava espantado para aquele mundaréo de pessoas, todo mundo olhando para ele! Entrou a regente e fez-se silêncio. Silêncio para nós porque para os surdos é sempre silêncio. Iniciou-se o hino nacional. Os acordes introdutórios. A regente levantou os braços... e eles cantaram o hino nacional com gestos! Cantaram com as mãos, os braços, os olhos, o rosto, o corpo inteiro! A voz calada, o corpo cantando! Ouvimos a música que mora no silêncio. Terminado o hino todas as crianças se abriram num enorme sorriso e correram a abraçar a regente. E aí, cantaram para mim a “Serra da Boa Esperança”. Por vezes não é possível não chorar...


TEXTO: Rubem Alves

sábado, 29 de maio de 2010

Andando pelo Shopping

Ganhei um anel de dia das Mães, mas sendo meu dedo pequeno demais e o anel enorme o joalheiro afirmou categoricamente que não podia fazer a redução do anel, porque ia estragar, ‘implorei’ mais não ouve jeito, então tá, fazer o que, o jeito foi me conformar.

Troquei por um brinco, recebi o restante do dinheiro [coisa rara no Brasil] e tudo legal... Legal nada né, queria e quero o anel.

Aí pensei na conformidade das coisas... E andando pelo shopping, apareceram várias “fadinhas”, o que tinha de pequenas e lindas menininhas sentadinhas comendo, correndo, perambulando com seus cachos, suas botinhas; e seus vestidos longos, um festival aos meus olhos, já que gosto tanto de crianças...

Uma delas, a primeira que me chamou a atenção, estava sentada tomando um lanche, quando de repente se agitou, largando tudo espalhafatosamente [com seus 3 ou 4 anos], e quase aos berros, disse:

---- Tô com calor, muito calor; retirando uma das blusas que a agasalhava... A mãe correu até ela aflita, temerosa [mãe é assim, a gente sente frio e agasalha o filho, natural, instinto de proteção esmerada e muitas vezes, exagerada].

Logo adiante outra ‘fadinha’ correndo, a babá correndo atrás, a mãe um pouco ‘distante’, notava-se o engodo que a maternidade também gera em nós mulheres. É gostoso e bom ser mãe, mas somos mulheres sensíveis e frágeis e tão fortes ao mesmo tempo, que nos embaralhamos na conformidade de ser mãe...

Depois, fui ver um filme com minha filha, ótimo por sinal, e ali sentada assistindo o filme, me deparei novamente com o conformismo das coisas que não podemos mudar...

Pessoas falando quase que o filme todo, e me pergunto:

--- Por que cargas d’água o povo vai ao cinema e fala mais que a boca?

Porém, cheguei à conclusão que se conformar pode ser bom pra não enfartar, mas que é um pé no saco é...

Eu devia ter ‘gritado mais, me conformado menos... ’ e devo aprender a dar menos importância a coisas pequenas... Mas que deu vontade de berrar que nem a menininha, ah... Isso deu!


TEXTO: Solange Mazzeto

quinta-feira, 27 de maio de 2010

PLUMA



suave boca
que refrigera
a alma

flutua luz
por onde
ecoa

simples som
que a pedra ouve
busca lenta

a madrugada


texto by Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

sábado, 15 de maio de 2010

Tão diferente e tão igual



se ainda o amo?
não poderia ser diferente

amo sua calma
seu sonar

[é perturbador e vaga-lume isso]

sabe?
é tão igual amar o ‘você’
que você é

mas, eu não sei ainda
o que há
mas tá ficando diferente
...


TEXTO e IMAGEM by Solange Mazzeto

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Rubem Alves do universo à jabuticaba



Gosto de ponto e vírgula e de jabuticaba. Me dei ontem de presente o mais novo Livro do Rubem Alves, que se chama: Rubem Alves do universo à jabuticaba. Outra coisa que gosto muito de usar é crase, mesmo que não esteja certo, eu a coloco, pra depois tirar, será teimosia?

Portanto o título do livro me chamou a atenção de tal maneira, que estando na FNAC, eu só vi o livro dele postado na prateleira, a me esperar... derradeiro!

Rubem Alves, no começo me chamou a atenção pelo M do final do nome, achei exótico, diferente e pensei, vou ler sobre esse cara, então achei o site dele, e a primeira crônica que li foi sobre cozinhar, que é uma ‘terapia’ que vez ou outra eu gosto, cozinhar a luz da lua, cozinhar pra quem se ama, inclusive cozinhar pra mim mesma, quando solitária, mas não sozinha, então separo tomates frescos, ervas de minha horta, espaguete al dente e ali está meu espaguete quentíssimo servido pra mim, arrumadinho, e muito parmesão ralado e com um vinho do porto pra ser chique, mas pura mentira, porque faço uso do refrigerante escuro e bem gelado com gelo e sem limão...

Enfim, voltando ao Rubem Alves, gosto de ler o que ele escreve, pra mim é de fácil digestão, de assimilação perfeita, é como se as palavras dele dançassem no meu ventre nascido do meu macio colo e do mole coração que tenho.

É um amor de longe, não o conheço pessoalmente, mas o que quero o que me falta é vê-lo e pedir um autógrafo...

Diz Rubem Alves que temos desejo do que não temos então meu desejo ao universo é que ouçam e atendam meu pedido, quero conhecer o Rubem Alves, e se for à época das jabuticabas, sentar ao lado dele, quem sabe na sombra de ipês amarelos saboreando jabuticabas numa vasilha vermelha...

TEXTO E IMAGEM: by Solange Mazzeto

domingo, 9 de maio de 2010

Nem penso, nem cismo



há um canto

onde a vida se faz bela
onde a tristeza não tem vez

há um lugar dentro de mim
onde o bem se faz maior

onde a presença do Divino
clareia e abastece
meu som interno
e me [re]veste...

é nesse regato suave
que
nem penso, nem cismo

apenas insisto
em existir


texto by Solange Mazzeto

IMAGEM: CLAUDE MONET

Fase-de-ser Mãe



Ser mãe, é ser chata, é o papel da mãe, a chatice exacerbada. Já dizia meu querido Dr. Castro!

---- Coloca casaco, tá frio, leva o guarda-chuva, vai chover... Se alimentou? Não pode sair de casa com o estômago vazio. Cuidado com a friagem, não senta no chão frio... Olha o sol tá ardido, coloca um boné... Não lava o cabelo agora, deixa pra amanhã, que agora está tarde demais...

Deixa contar uma coisa: fiz uma personagem que era uma mãe altamente preocupada, e no final da peça, surge diante de mim, um homem já formado, e me fala:

---- Obrigado viu? Eu revivi [durante a peça] momentos com minha mãe, eu quase chorei, eu vi em você a minha mãe, e senti muita falta das “chatices” dela. Sabe eu odiava todas essas recomendações, mas agora que não a tenho, sinto falta, mas só me dei conta da dor agora...

O olhei, vi seus olhos marejados, e o que disse a ele? Nada, só o abracei, e dei um pouco de amor da mãe que sou e da personagem que ainda estava tão latente em mim.

Eu como mãe, não sou perfeita e nem tenho síndrome de super heroína [já tive], mas aprendi e ainda aprendo a não super-mãe-maravilha. Aprendi e ainda aprendo que pra ser uma boa mãe, a gente precisa ser legal antes com a gente mesmo, gostar de quem se é. Se amar, valorizar o que somos, porque exemplo, é melhor que mil palavras, e nós somos tudo meio macaquinho imitador...

Um beijo meu a todas as mães, a todas que conseguiram passar pelo turbilhão de ‘hormônios falantes’ e estão aqui suando a camisa, e sorrindo, apesar de todos os pesares, e curtindo o passeio dessa
fase-de- ser-mãe.



Texto e Imagem: Solange Mazzeto