sábado, 13 de novembro de 2010

Senhorinha lilás




Ali estava eu, pleno sábado de manhã andando pelo Shoppping, com uma sensação ótima de liberdade, de não ter que esperar ‘marido’ pra nada. Porque quando casada, era quase sempre uma carinha meio feia, um bufar de “ai de novo, ela vai entrar naquela loja...”.

E quando eu estava de bom humor, levava na base da brincadeira, quando não, a diversão “shopística” acabava de vez e íamos embora. Por vezes, pra amainar e não brigar, eu fazia piada, mas isso cansa por demais, fingir que tudo tá bom.

Pois bem, hoje como, às vezes, faço, observei as pessoas na rua, e no Shopping, o que é um excelente laboratório pra quem é atriz como eu.

Senti fome e fui comer, na fila do fast food aquela demora de gente que não sabe o que escolher e fica olhando pra comida, como se fosse um ET, sempre tem uma mulher com o regime decorado, que pega uma azeitona, várias folhas verdes, coca diet e tá acima do peso ‘ideal’.

Depois sempre tem uma mulher magra que pega muita comida e o povo morre de inveja, e ainda pega doce de sobremesa e esbanja charme [é hilário isso].

Enfim, de repente vi uma senhorinha de cabelos lilás, sabe cabelo roxinho, quando criança eu dizia pra minha mãe, ‘mãe quando eu ficar velhinha irei pintar meu cabelo de roxinho’, minha mãe revirava os olhos e sorria, e me dizia ‘é feio filha’, ‘é não’, eu retrucava. Juro que achei que essa tinta não existia mais, mais existe. Saquei meu celular pra bater foto dela, mas achei que seria indelicado, a menos que eu pedisse pra bater a foto, mas também achei indelicado e fiquei ali, vendo a senhorinha lilás...

Depois que almocei, fui sassaricar pelos corredores volumosos de gente, e vi um casal, a mulher emocionada, olhando a pulseira que acabava de ganhar do, namorado, ficante, sei lá. Só sei que foi uma cena bonita, embora, ela não o agarrou pelo pescoço e nem lascou-lhe um beijo [que era o que eu esperava ver].
Ela apenas olhava pra pulseira, já no braço, e os olhos traduziam a emoção parada, fragmentada, sem gestos de eloquência. Como, talvez, eu não agisse assim, me perturbou, se eu fosse a diretora do ‘filme’ dela e do cara, falaria pra ela: “ olhe pra ele, balbucie alguma coisa inteligível, depois diga que o ama e o beije”. O corpo dela queria isso, os sinais eram evidentes, ele também ‘dizia’ isso com a expressão corporal. Mas nada; continuaram andando, sorrindo um para o outro, ela balançando a cabeça como ‘não acredito no que to vendo”, literalmente embasbacada, ai pensei, acho que ela não consegue falar de tanta euforia, isso pode acontecer mesmo, aí na minha malvadeza mental pensei: “vichê e quando ela ganhar alianças? Terá um colapso”?

Parei de observá-los, e continuei caminhando, já meio agoniada, porque detesto Shopping lotado.

Subindo as escadas rolantes, vi a cena que embasbaco sempre, crianças, e derreto mesmo, não tem jeito, gosto dos pequeninos, se seguro um neném no colo, sempre meus olhos enchem de lágrimas, tento me segurar, e disfarçar, mas é sempre isso, ‘me acabo’.

E ali estava ‘minha’ criancinha predileta no quesito beleza, as japonesinhas, ou como dizia o Cazuza, as japoninhas, toda enfeitadinha, vestidinho, sapatinho, lacinho no cabelo, e aquela boquinha em forma de coração, desenhadinha de tudo. E a avó babando pela netinha, quando me olhou, sorriu aquele sorriso terno que algumas avós têm, sorri pra ela de volta, e segui meu caminho.

Entrando numa loja de departamentos, vi um casal, a mulher histericamente perguntando ao marido, que roupa levar, e ele qualquer ‘uma tá bom’. Ela bufou, brigaram e ele saiu da loja.

É vexames, coisas de casal.

Pois é, peguei um táxi que eu tava com compras pesadas e tive o prazer de ser trazida por um senhor paranaense, vivendo há 38 anos aqui em Sampa, com um sotaque e uma alegria contagiantes. Viemos conversando como dois velhos conhecidos, e antes de me deixar na porta de casa, me disse: moça, você é extremamente amistosa e simpática, isso faz de você mais linda do que já é, porque você já percebeu que a mais linda pessoa, se ela for antipática, ela fica é muito da feia? Moça, eu falo errado, mas gosto de assim falar. Gargalhei e disse, mais aí que reside seu charme, meu senhor!

Rimos, paguei o taxista e disse: e o senhor é um homem muito legal também, tem colegas seus, que nem olham pra cara da gente, tratam mal, porque a corrida é curta. É eu sei, esses daí, nem pra mim sabem mostrar os dentes moça!
Rimos de novo, entrei em casa, satisfeita, e com uma promessa, não sei se ainda dividirei o teto novamente com outro homem, mas tem algo que não farei mais, é levar o ‘coitado’ num Shopping lotado, e ainda perguntar opiniões disso e daquilo outro.

Dia de sábado que nem esse? Poderia ser melhor? Não, a menos que eu tivesse com mais grana pra gastar.


TEXTO: SOLANGE MAZZETO
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

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