quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cheiro de Natal



Há um cheiro de Natal no ar, a carne assando com as batatas no seu som e cheiro infalíveis, atestam a memória de dias felizes, das uvas rosadas, do abacaxi cortadinho sem o miolo e eu comendo só o miolo, que é onde não pica a língua.
Minha irmã mais velha se arrumando, de meu pai a lembrança é escassa, lembro de minha mãe depenando galinha que ela mesma havia criado desde que era um simples ovinho e ali está a galinha amarrada com um pedaço de pano adornando as patas, e, jejum forçado de uma semana, porque como minha mãe dizia: ‘agora a galinha fica uns dias sem comer porcaria, limpando o intestino... ’ E aquele cheiro de galinha depenada na casa toda me dava é náuseas. E tinha aula de anatomia a cada matança de galinha, ali vinha minha mãe explicar as ‘particularidades’ da pobre e ainda fazia simpatia com o coração da pobrezinha, sempre havia por perto uma mulher grávida querendo saber o sexo do neném e minha mãe cortando ao meio o coração da galinha dizia: ‘se for macho que fique fechado, se for fêmea que fique aberto’, e punha a cozinhar o coração, junto à moela, pescoço, peito, asas e rabo da galinha e sempre dava certo, eficiente essa ultra-sonografia de minha mãe...
E vinham tios e tias e primos e primas na mesa de minha casa, e era rica a ceia, nunca chique, mas rica de alegria, tinha um tio especial que me chamava de ‘princesa’, eu gostava tanto dele, dos olhos azuis, do tom de pele rosado, das bochechas gordas onde me aninhava, ainda posso ouvir as risadas que ele soltava.
Íamos à igreja, rezar, agradecer e cantar, eu sempre fazia teatrinho para o Menino Jesus.
E criança naquela época dormia cedo para que o Papai Noel, colocasse presente na botinha.
Eram bons esses Natais onde prevalecia a alegria e a esperança certeira que eu ganharia meu presente de Natal.


crônica Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

2 comentários:

  1. Pois é Solange, eu também sinto os cheiros de Natal no ar - natais da minha infância.
    Meus avós moravam no interior de Minas Gerais e na minha memória olfativa vem logo o cheirinho de manga carlotinha, frango assado, bacalhoada feita no fogão à lenha e, principalmente, o cheiro do vinho português que era servido aos adultos!
    Um espetáculo!
    Adorei recordar!

    Bjs
    Luz!

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  2. Oi Regina, manga carlotinha? é manga daquelas pequenininhas? se for tbm tenho essa recordação, que no interior chamamos de 'manga coquinho', tem mais caroço q manga, mas é deliciosa e com muito fiapo. Recordar é uma coisa boa né!
    Lembrar parte de nossa história, me soa bem!Que bom q tbm vc se lembrou e compartilhou suas lembranças!

    bjão

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