terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O dia




o dia foi direto
a cruzada no peito foi doente
a brisa se violentou
e
tornou-se ventania

reli Maria
visualizei o campo de rosas
todas mortas
emporcalhadas pelo chão

surripiei bondade
acalentei o frio
dilacerei meu nome
corri do céu

virei vadia
fiquei no cio

morri deitada na direita da porta
que entre aberta
pisoteava seu nome


TEXTO: Solange Mazzeto

DESCONHEÇOA A AUTORIA DA IMAGEM

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Navego

nos teus dedos
de amante

navego borboletas
colho rompantes

na tua íris
vejo majestade

[fico princesa]

curvo meu dorso

te vejo claramente
despido

louco e delirante
gotejando os jatos
da luxúria

dos instantes


TEXTO: Solange Mazzeto

domingo, 9 de janeiro de 2011

Filosofia no Cotidiano - Rubem Alves pt1

Carlos Drummond de Andrade

(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

(Resíduo)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Translúcida




Desde menina eu gostava dessa palavra, translúcida, que quer dizer transparente, mas quando eu descobri essa palavra, eu soletrava e dizia: trans-lú-ci-daaaa.

As transparências nas emoções, nos sentimentos, sempre levaram minha mãe a me dizer:
--- menina besta que se mostra a toa.

Tempos se passaram, aprendi a suar o nariz sozinha, a limpar meu rosto de alguma baba, aprendi a amarrar os tênis, a engraxar meus brilhantes sapatos escolares.

Mas a ideia de: ‘você é besta’, não me largou.

O caminho por vezes, tanto no tato, no trato, no trajeto de um olhar ao outro, é tortuoso, com fagulhas quentes que nos fazem chorar.

Agora enquanto escrevo, a cozinha está lavada, os pratos empilhados no armário antigo, a casa cheira a cera daquelas antigas, e o pão assa no forno velho, pois não quero um forno novo, tenho medo que meus pães e meus bolos não assem mais como agora...

E nisso tudo tem o soar de chuva de um verão estranho, mas é verão.


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

domingo, 2 de janeiro de 2011

Mal nenhum




o demônio corre nas veias
discorda, briga
interrompe, distrai

escape dos conselhos inúteis
da vida vadia

será?

quem quer por a pica dentro do forno e assar?

o mundo real é vermelho
o sorriso amarelado
o dente é doente
a mente infame

que será?

não faço ideia

demente, dormente
o dia amanhece

antecede
...
cede
...
distrai


TEXTO: Solange Mazzeto
IMAGEM: Tascha

sábado, 1 de janeiro de 2011

Bolo pro namorado



fiz um bolo lindo,
daqueles que a gente faz
pro namorado

peguei os ovos da galinha
botei as gemas, o açúcar
fiz um girado

as claras em alva postura
declarava o tratado
de que
amor e compostura

faz a boca render
beijo
e um bem
danado


TEXTO: Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM