quarta-feira, 28 de abril de 2010

Ensaboando

bolhas de sabão
meias pelo chão
rodelas de tomate
e de pimentão

olhar aflorado
beijo domado

coro de anjos
espelho
esfumado

ali estava ela
ensaboando luzes
ao redor de umbigos


by Solange Mazzeto

Aplausos e perguntas



meu olho te busca
como imã
busca o ferro

uma atmosfera translúcida
perpassa
pelo meu cérebro

sua pele pra mim
é quase dependência
química

os astros cogitam
os deuses
aplaudem

e nós?

como é que fica?


Texto e Imagem by Solange Mazzeto

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Nem pó, nem pobreza




era manhã
o rouxinol
cantou

dei um passo
encostei a boca
em outra boca

e o mundo
não pertencia
mais ao pó
nem a pobreza

o mundo fluía leve
bem
leve


texto by Solange Mazzeto
IMAGEM: KLIMT

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Ternura



deixarei os versos rubros
das paixões intensas
morrer

ficarei banida
com a face dorida

serei uma sombra
do ontem
uma flor ao vento
da noite

permitirei debandar
as rimas
e subir no ócio
de cada dia

ou deixarei que a ternura
me rompa
as lágrimas
e deixe a brandura
retomar
minha sina?


texto e foto by Solange Mazzeto

domingo, 11 de abril de 2010

Quadrilha - Drummond - [melhor poema de todos os tempos]

Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Cidade




o véu negro
cai

numa cidade crua
enterrada sob o desdém
do poder público

e soterrada
pela ignorância
do povo
[que insiste em jogar lixo nas ruas]

terror e pânico
se misturam
petrificando o
olhar

um olhar que chora
que perde
e rompe-se
em sangue

triste
a cidade
está

[terrivelmente]
triste


by Solange Mazzeto
DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Poeta

poeta
é alma, coração e artéria
numa mesma poção mágica
que espera a esperança
que dita mormaços
que desdobra o conhaque
que empunha o lápis
e que sonha... ah... como um poeta sonha
melhor nem contar...

by Solange Mazzeto

terça-feira, 6 de abril de 2010

Borboletas azuis




no fosco amanhecer
me vi senda e renda

devaneei teus braços
me lastimei

senti a fria
angústia
se espalhando
impiedosa

sob minha língua
recriei tua fala

queria [sentir ]nada

mas...
borboletas azuis
me fiam a lábia
me transmitem calma

e assim mergulho no vôo
sobrevôo a nuca
de tua estrada

e
livre

canto n’alma
a
madrugada


texto by Solange Mazzeto

AUTORIA DA IMAGEM: José Barreiro [site Olhares]