quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Se não houvesse

se não houvesse o olhar
talvez não houvesse o
primeiro beijo
e sem isso não haveria,
quem sabe
o
toque dos dedos

se não houvesse a música
talvez não houvesse
o brincar na orelha dele
e nem a voz dela a sorrir
em sua nuca

se não houvesse o violão,
haveria talvez
quem sabe
o
corpo dela
...

a dedilhar o som
a deixar o chão
...


TEXTO: Solange Mazzeto

domingo, 22 de agosto de 2010

Sem a poesia



Sem a poesia meu mundo seria muito chato, quando por ventura me sinto aborrecida, alegre, feliz, chateada, emburrada, com TPM, enfim, eu leio poemas, porque assim fico perto dos poetas que aprecio e curto.

Tem poemas que acabo meio que sabendo de cor, mas procuro não deixar que cristalizem dentro de mim, para que sejam sempre poemas novos, que “estarei lendo pela primeira vez”, para que agindo assim eu possa me encantar de novo, e de novo, pelos mesmos.

Certo dia andava eu pela calçada, a mesma calçada com seus buracos e com suas árvores...quando vi uma nenezinha balbuciando “ããã neném, neném" e apontando o dedinho pra cima, e eu pasmada, ué a menininha está vendo neném aonde? No céu? Olhei pra cima, olhei pros lados e não vi neném algum. Na volta, ‘vi’ a placa e nela tinha um rostinho de um bebê, bem apagadinho... e desde então venho observando melhor as coisas a minha volta, mesmo que no mesmo caminho, há sempre algo novo e diferente. Hoje me deparei com uma árvore ‘nova’.


TEXTO e IMAGEM: Solange Mazzeto

Clarice Lispector

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

O beijo de Klint




Gustav Klint, O pintor da alma feminina. Dedicou-se às emoções positivas.


O Beijo


Corpos díspares, suave proximidade.

Leveza sensual, extrema sensibilidade.

Os braços se entrelaçam em calma atmosfera.

Não há antes, não há depois. Não há uma, não há um.

Há só o Ser. Ser só um, Ser só dois.

A união das mentes em um momento único,

onde todo o material se dissolve.

Não há paredes, não há chão, não há céu, não há mundo.

As fronteiras atingem o inimaginável.

Só existem cores, no espaço agora criado para a paz.

O carinho da não fusão, o doce retraimento,

A certeza de não estar só,

no mágico encontro dos lábios.


(Texto de Little Saint, publicado em 1936 na Inglaterra)

OLHOS DE POETA

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio, aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é alegria! Aconteceu, entretanto, faz uns dias, que eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal, sem surpresas. Entretanto, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E piro é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo meu causa espanto...” Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui até a estante de livros e de lá retirei as Odes elementales, de Plabo Neruda. Procurei a Ode à cebola e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘...rosa de água com escamas de cristal...’ Não, você não está ficando louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver”. Fiquei mordido de curiosidade. Cheguei em casa à noite (todo mundo já estava dormindo), fui à cozinha, escolhi uma cebola robusta e cortei uma fatia, no sentido vertical, que fica com o formato de um pingo d’água. Coloquei a fatia num prato e cuidadosamente “pinguei!” o pó de colorau no centro da fatia. O centro ficou com um vermelho forte que se foi espalhando, assumindo o formato da chama de uma vela.

TEXTO: RUBEM ALVES

sábado, 14 de agosto de 2010

Escrever a mão




O vicio de digitar já tomou conta. Parece que não sei mais escrever a mão, fogem as sílabas, me sinto apatetada, que louco isso.
Eu tinha a caligrafia lindíssima, agora é só garrancho, quase letra de médico, se ainda eu fosse médica, tava salva, mas não sou, toda vez que tento escrever a mão é um desastre total, tempos depois que ‘escrevinhei’ tento ler e? Nada né, não sei o que escrevi! Fico na base da adivinhação, quase um Braille, sem saber ler Braille.

Solange Mazzeto


desconheço a autoria da imagem

Penso na existência da paz.





Penso na existência da paz, aquela que vem de dentro do nosso macio, uma paz de calma, de nascer de novo, de construir caminhos, abrir as tampas da dor e explodir pra não implodir.

Cada pedaço de cor tem um tamanho, tem um antepassado, tem um comprimido imprimido.

Cada um tem a meta, a distância da saudade, tem a paciência congelada em traços dorsais.

Num instante fugidio a mente divaga, afaga... Conversa com palavras maleáveis, com gestos suaves, com ternura azul.

Sonhos fantasiam cada pedaço de terra, cada concreto cinzento, cada linha do arco que
divide-nos em seres humanos e bichos.
Mundo, vasto e tão pequeno, ali uma folha a correr do vento, acolá uma chama a brilhar no mar sem fim, sem limite... Sem tédio, sem vazio, sem buraco, porque o mar caminha sem pensar no dia de amanhã, ele cavalga, trota, rosna, se quebra, requebra, mas vai...

Cada um tem um olho a brilhar, adentrar, confiar, permitir...

Paz vem do alto mundo do coração, paz vem da pedra inoportuna que surgiu e partiu fragmentada demais pra estragar rumores de amor...
Paz vem do coração viajante, da mente esfumaçada e aqui estou a escrever palavras...


TEXTO: Solange Mazzeto
DECONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

ROSAS



despetala a lágrima
e de cada gota

a mancha da mágoa

cai voraz
na palidez do sonho

um sopro da morte
outro da vida

perpassa

alojando no cérebro
pétalas
guarnecidas


TEXTO: Solange Mazzeto

DESCONHEÇO A AUTORIA DA IMAGEM

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

CONVITE - BIENAL

Minha 1ª Antologia de Poemas, ganhei o concurso com esse poema abaixo, e estarei autografando o Livro Antologia de Amor, na Bienal- [Anhembi]stand M59, na Avenida Olavo Fontoura, nº 1.209 – Santana – SP.- dia 15 de agosto de 2010[domingo] das 18:00 às 20:00 - Espero vcs lá!


GUARDO O AMOR DOBRADO


guardo o amor dobrado,
com papel timbrado
num selo real

guardo esse amor
que nasceu nas entranhas
gerado em pacto natural

guardo esse [meu] amor
no conceito perfeito
de duas almas de peito

guardo [você]
meu amor

guardo [você] amor

sim eu
o
guardo

texto by Solange Mazzeto

É o ‘menino’

é a etapa ‘do’ antes

‘do’

finalmente



é um jogo de mãos,

uma palmada na bunda



é um vai que não vai

um esquenta a entranha



um ardor no seio

um esfregão na ‘menina’



é a mordida doída

que marca

e

[en]finca


TEXTO: Solange Mazzeto